sexta-feira, 30 de abril de 2010

Crónica de Rui Moreira: Um grito de revolta

O que é preciso para que um treinador correcto se exceda e acabe por ser expulso do banco, num jogo em que a sua equipa tem uma vantagem confortável, depois de uma jogada a meio do campo, e em que a única coisa que sucedeu de relevante foi a amostragem de um cartão amarelo a um dos seus jogadores? A pergunta tem resposta óbvia: é preciso que a arbitragem tenha tomado uma decisão escabrosa.
Foi isso que sucedeu em Setúbal, onde Jesualdo não se conformou com a decisão do árbitro que, depois de ouvir o inefável assistente Gabínio Evaristo, amarelou um jogador do FC Porto que fora vítima de um derrube por parte de dois adversários e não cometera qualquer infracção. Aliás, se tivesse agredido um adversário (como a rola vermelha imaginou mas de facto não sucedeu) deveria ter sido expulso. Manuel Fernandes, que é insuspeito no caso, logo falou de um equívoco, e o jogador pretensamente agredido também já disse que o amarelo foi mal mostrado, mas a verdade é que esse pretenso equívoco foi logo acontecer, certamente por acaso, com Falcao, que estava em risco de exclusão, e assim fica impedido de defrontar o Benfica, e de lutar pela conquista do troféu de melhor marcador do campeonato.

Tudo acontece a Pedro Henriques, um árbitro que era uma elogiada promessa até ter sido proscrito dos jogos do Benfica, desde o distante Natal de 2008 e do encontro que terminou em sururu, depois de um golo anulado aos encarnados. Serve para apitar o FC Porto e, esta época, fê-lo pela terceira vez, depois de ter actuado em Olhão, onde Tomás Costa saiu com uma fractura no nariz sem que nada tivesse sucedido ao autor da proeza, e no jogo da primeira volta com o Setúbal, em que Djikiné agrediu Belluschi e cometeu dois penalties indiscutíveis que não foram assinalados. Assim, em breve estará perdoado….

Instantes depois de terminado o jogo no Bonfim, o sorridente Lucílio, também conhecido por SLB, entrou em jogo no palco da Luz. Foi uma justa homenagem a um dos patrocinadores da equipa do ano. Assinalou um penalty ao terceiro minuto, expulsou um jogador ao oitavo e, depois, deixou que Maxi ficasse em campo após mais uma entrada violenta e em tempo de descontos poupou o segundo cartão amarelo a Cardozo, que simulou um penalty.

Nada disto é relevante, dirão, porque tudo parece decidido na classificação. Ainda assim, compreendo o grito de revolta, como um acto de solidariedade para com o grupo de trabalho, e não apenas por esta situação escandalosa, que prejudicou um dos seus pupilos e reduz as suas opções para o jogo do fim-de-semana, mas também pelas nomeações, pelo acumular de casos e pela dualidade de critérios que tanto prejudicou a sua equipa ao longo da época. E, desta vez, percebo o silêncio da SAD. Desta forma, e em vésperas de um jogo com o Benfica, em que o combate se deve resumir ao relvado, ninguém poderá acusar o FC Porto de adoptar tácticas incendiárias.

O 'recta pronúncia'
«TODOS sabemos o que acontece ao Porto quando tem de jogar em Inglaterra contra equipas que vestem de vermelho e branco», escrevia Ricardo Araújo Pereira a 21 de Março, antes de perceber o que acontece ao Benfica quando joga em Inglaterra contra outros encarnados... Os feitos europeus do FC Porto, nos últimos 25 anos atormentam-no porque, desde que nasceu, o seu clube anda longe dessa ribalta e porque esse desequilíbrio fora de portas entre os dois clubes desmente a constante suspeita com que desmerece as vitórias do FC Porto em solo pátrio. Será que RAP encontra, na sua vasta biblioteca, uma única crónica sua, ou de um seu correligionário, em que se leia que o FC Porto foi melhor?

A contabilidade do cómico
UMA semana depois, escrevia que «o Benfica, que nunca perdeu uma final com o Porto, venceu, sem surpresa, a Taça da Liga». Ora, já em 1957/58 o clube do regime perdeu uma final da Taça contra o FC Porto. Para que conste, os dois clubes já disputaram entre si 21finais oficiais, e o Benfica leva vantagem com 12 vitórias. No Campeonato de Portugal, o Benfica ganhou em 1930/31. Na Taça de Portugal, o Benfica ganhou 8 finais e perdeu 1. Já na Supertaça, o FC Porto ganhou 8 e perdeu 2. O Benfica ganhou a Taça Lucílio Baptista deste ano. RAP pode invocar que as suas crónicas são humorísticas, desde que não queira que o levemos a sério, seja como bastião da coerência, seja como censor de cronistas.

O outro Ricardo
O Conselho de Justiça deu razão a Pinto da Costa, e anulou mais uma das inenarráveis sentenças de Ricardo Costa, que queria amordaçar o cidadão em causa através da sua inconstitucional interpretação a que alguém chamou de «lei da rolha». Claro que o excelso presidente da CD da Liga ficará, mais uma vez, imune a qualquer consequência. Li, a propósito, um oportuno comentário que citava Bertold Brecht, segundo o qual «alguns juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue induzi-los a fazer justiça». Mas, neste caso, e atendendo à grande reputação do excelso Doutor Costa em certos ninhos, prefiro invocar uma frase que a minha avó repetia muitas vezes: «O bom senso nunca terá heróis».

O exemplo da Inglaterra
RUI SANTOS não concorda com a lei da rolha, mas defende que, a exemplo do que sucede em Inglaterra, os agentes desportivos deveriam ser castigados por fazerem declarações que prejudicam a reputação do jogo. Ora, essa lei não existe em Portugal mas, concordando com o princípio, não entendo por que razão só se deveria aplicar a Pinto da Costa, quando se sabe a forma como os adversários sempre levantaram as mais fantasiosas suspeições para denegrirem as vitórias do FC Porto. E se falarmos em desprestígio, ainda que se reconheça que os dirigentes dos clubes não estão isentos de culpas, não encontraremos quem mais para ele tenha contribuído, este ano, do que a própria justiça desportiva.

Rui Moreira n' A Bola.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Crónica de Miguel Sousa Tavares: Falcao, águias e outras rapinas

1 Pedro Henriques é um árbitro que, quando apareceu, prometia bem mais do que aquilo que viria a cumprir. Por razões que ignoro, o facto é que ele nunca passou de um árbitro banal, às vezes mesmo, pior do que isso até: acumula algumas limitações de julgamento, técnicas, com uma postura de vedetismo e autoritarismo que, não sendo qualidades em si mesmas, só podem tornar mais evidentes os defeitos. Nada é menos eficaz do que o autoritarismo sem a autoridade natural da competência. E, desta vez, quem pagou as favas foi Falcao — ou, como bem disse Jesualdo Ferreira, o espectáculo do Porto-Benfica que aí vem. Por desejo de protagonismo, por autoritarismo, Pedro Henriques resolveu tirar Falcao do clássico deste fim-de-semana, conseguindo ver numa mão em queda de um jogador em queda, depois de derrubado pelos adversários, uma atitude adequada para um cartão amarelo. Incompetência: essa mão na cara do adversário ou ele a julgava como acidental ou a julgava intencional — e então, seria uma agressão, que daria motivo para um vermelho directo, jamais para um amarelo. Exibicionismo: num jogo já decidido e sem história, Pedro Henriques não resistiu a entrar para a história como o árbitro que impediu que a luta pela Bola de Prata entre Falcao e Cardozo pudesse continuar a ser o único, rigorosamente o único, motivo de interesse que ainda resta neste campeonato. Nesse instante, de peito feito, ele achou-se importantíssimo, a suprema autoridade. Enganou-se e o seu engano é ridículo: Falcao faz falta ao espectáculo e, na disputa particular em que estava envolvido, é insubstituível; ele, não.

2 De qualquer maneira, não é justo mandar todas as culpas do desfecho da Bola de Prata para cima de Pedro Henriques. Jorge Jesus fez notar que a Bola de Prata é um troféu que já escapa ao Benfica há muitos anos — e que o Benfica adorava juntar este ano ao título de campeão, já entregue. E, como se tem visto e se viu outra vez este fim-de-semana, estamos em ano em que o Benfica quer, o Benfica tem. Os jogos do Glorioso têm tido uma fatal tendência para serem marcados por uma série infindável de penalties a favor (que Cardozo lá vai transformando, mais mal que bem) e por expulsões dos adversários, que muito facilitam os desfechos. Cardozo leva uns dez penalties convertidos no rol dos seus golos acumulados, Falcao leva dois. Cardozo leva alguns golos validados em off-side (como o terceiro do seu hat-trick contra o Olhanense), Falcao leva quatro golos limpinhos anulados por falsos off-sides. Está uma passadeira vermelha estendida para que Óscar Cardoso leve a Bola de Prata, a de Ouro e a de Diamantes. Resta, como me confessava um benfiquista mais tranquilo que outros que por aí andam, que Falcao é muito melhor avançado e jogador do que Cardozo — como aliás percebe qualquer um que perceba de futebol. E eu, que até acho que Cardozo é um bom avançado e útil na sua missão, não pude deixar de concordar com este benfiquista, quando ele, recebendo a notícia do terceiro golo de Cardozo contra o Olhanense, comentou: «Se ele, além de marcar golos, soubesse jogar futebol, já estava no Real Madrid!».

Não impede que Radomel Falcao, tão a leste destas guerrilhas internas, foi roubado de um troféu individual que indiscutivelmente merecia e mereceu, pela época que fez, pelos golos que marcou e pelos que injustamente lhe anularam e pelo jogador que é. Falcao saiu do jogo de Setúbal em lágrimas por não poder jogar o seu primeiro Porto-Benfica; Jesualdo Ferreira foi expulso do banco pela primeira vez na sua carreira. E Pedro Henriques lá vai continuar igual.

E não impede que Vítor Pereira deveria ter mais pudor em não nomear para os jogos finais do campeonato os árbitros que o mundo inteiro sabe que levam uma mancha benfiquista no coração. Lucilio Baptista — um dos piores árbitros dos últimos anos do futebol português — já não tem margem para benefício da dúvida, quando arbitra o Benfica. Toda a gente o sabe, toda a gente o vê, já toda a gente sorri quando o vê actuar com o Benfica em campo. Desta vez e em apenas oito minutos, ele liquidou o Olhanense e nem sequer deixou qualquer hipótese de que o jogo se pudesse vir a complicar para o Benfica. Aos dois minutos, marcou pressurosamente um daqueles penalties de bola no braço que, em querendo, só não se assinalam aos manetas (e bem menos evidente do que o braço na bola com que Aimar amorteceu para marcar o quinto golo do Benfica). E, aos oito, aí já com razão, mostrou o segundo amarelo ao não-maneta do Olhanense e, com isso e o penalty inventado, o jogo ficou arrumado, tirando os fait-divers: o quarto golo em off-side, o quinto preparado com a mão. Viva o campeão e o Bola de Prata!

Consola-me pensar que em breve Lucílio Baptista gozará a sua justa reforma e Ricardo Costa a sua justa retirada de cena. Cumpridas as suas missões, elogiado o seu zelo em defesa da «transparência». E talvez, quem sabe para o ano, o campeonato se resolva exclusivamente dentro do campo e não haja protagonistas marginais ao jogo a cumprirem a sua penosa missão de retirarem de jogo os seus verdadeiros e melhores protagonistas. Um campeonato inteiramente jogado à luz do dia, longe das sombras dos túneis, dos tiques de autoridade de personagens menores e que nenhuma, nenhuma falta fazem ao futebol.

3 Ricardo Costa retira-se, aliás, com mais uma derrota na sua infatigável batalha contra o F.C. Porto: o Conselho de Disciplina não apenas revogou o seu «castigo» de mais três meses de silêncio a Pinto da Costa, como ainda lhe lembrou esta coisa evidente: quem é o Sr. Ricardo Costa para querer silenciar quem quer que seja? Quem é este Torquemada de trazer por casa que se acha mais importante do que a própria Constituição da República? Quem é este mestre de direito cujas brilhantes teses, e de sentido único, nunca são acompanhadas por ninguém mais que julga os mesmos factos que ele? Quem é este pavão justiceiro que até consegue retirar à águia o brilho que, todavia, nós até lhe reconhecemos? Bye, Bye, Dr. Costa, volte lá para de onde nunca deveria ter saído.

4 Fantástico José Mourinho: ele e só ele derrotou o Barcelona. Não foi o Inter, porque o Inter é uma equipe banal, apenas com um grande guarda-redes e um excelente médio-esquerdo chamado Snejder. O resto são vedetas sem sustentação futebolística — como esse menino mal-educado que é o Balotelli, um jogador absolutamente vulgar, que eu, francamente, não consigo entender como é que merece de Mourinho mais atenção e mais oportunidades que o Ricardo Quaresma.

É sintomático que toda a critica tenha escrito que Mourinho anulou o Barça— jamais que o Inter fez um grande jogo. Não fez, nem nunca faz (talvez contra o Milan, no campeonato, e contra o Chelsea, em Londres). De resto, o futebol do Inter é tão entusiasmante como o Ricardo Costa a explicar as suas teses jurídicas: é um futebol incapaz de dar vida a um moribundo a quem prometessem mais dez anos de vida. Mas isso só torna mais notável o desempenho de José Mourinho: a sua capacidade única de estudar os adversários até à alma e de inventar maneira de os reduzir à impotência e o seu talento para juntar nove homens banais, acrescentados de dois ou três bons, e deles todos fazer uma equipe ganhadora. Mas, continuo na minha: de todas as equipes vencedoras de José Mourinho, a que melhor futebol jogava, que mais espectáculo dava, foi o F. C. Porto de 2003, que venceu em Sevilha a Taça UEFA.

PS: Ricardo Araújo Pereira lá prossegue a sua insana tarefa de meu arquivista particular e não nomeado. Desta vez, e para além do desejo reiterado de não me ver falar de árbitros (exclusivo de cronistas benfiquistas, como ele), realça a minha grande contradição por, em Julho passado, ainda a época não tinha arrancado e eu não tinha visto jogar ninguém, ter previsto que o F.C.Porto era outra vez o principal candidato ao título. O facto de, logo em Setembro e depois de ver o que já havia para ver, ter começado a escrever que o Benfica era a melhor equipe, à vista, não anula essa penosa contradição que ele me atribuí. Ao contrário dele próprio, a quem ninguém verá jamais um elogio ao futebol jogado pelo F.C.Porto (aliás, futebol, propriamente dito, é assunto que nunca o ocupa), ele acha que eu cometi o crime de não ter começado a elogiar o Benfica logo após o Torneio do Guadiana. OK: solenemente declaro, desde já, que o meu favorito para o ano é o Benfica. É o Benfica, é o Benfica.

Entretanto, agradeço ao arquivista ter-me lembrado que em Olhão, no jogo da primeira volta, o Cardozo só não foi para a rua porque o árbitro, enquanto caminhava para ele para lhe mostrar o vermelho merecido, lembrou-se do Benfica-Porto na semana seguinte e mudou o vermelho para amarelo. O Pedro Henriques também se lembrou do Porto-Benfica, mas, estranhamente, a consequência foi a oposta...

Miguel Sousa Tavares n'A Bola.

domingo, 25 de abril de 2010

Parabéns, ENEACampeões!!




Tech: Nintendo a surpreender

Esta semana, ao contrário do que sucedeu na anterior, tenho várias notícias para dar aos amantes das tecnologias. Desta vez, as novidades vão desde consolas até a relógios, passando pelo já famoso Ipad.
A Nintendo tem vindo a surpreender tudo e todos com os seus mais recentes lançamentos. Desde a Nintendo DSi XL, até aos novos jogos da Wii, como é o caso do Monster Hunter Tri, a empresa nipónica tem dado provas de que os tempos áureos voltaram e que querem continuar a deixar a sua marca na Era das Tecnologias.

A política de secretismo adoptada, desde sempre, pela Nintendo faz com que cada lançamento seja encarado como um grande evento à escala mundial, que nunca deixou ninguém desiludido. Contudo, houve alguém que deixou escapar algumas informações que chegaram aos ouvidos dos senhores da Computer and Video Games (site de jogos britânico). Essas informações dão conta do lançamento da Nintendo 3DS. Esta consola portátil tinha data de lançamento agendada para meados de Março de 2011, no entanto, segundo fontes do site britânico, o lançamento foi antecipado para Outubro. Contudo, só em Junho, altura em que se realiza a E3 (feira internacional de vídeosjogos), é que se saberá realmente os contornos deste lançamento.

Ainda em relação à Nintendo, foi anunciado o lançamento do novo gamepad. Um comando ao estilo da Xbox 360 e da PS3, que conta com dois analógicos e os habituais botões redondos. A promessa feita em Janeiro, de que também a Nintendo Wii teria um comando clássico, foi cumprida e depois de ter sido lançado no Japão, chega agora às lojas americanas e europeias. Nas versões branco e preto, estará à venda por 16.00 euros (preço Amazon.com).

Quem também anunciou uma data de lançamento foi a Apple. Apesar de ter havido uma certa confusão no site oficial em relação às datas, a empresa de Steve Jobs vai lançar no próximo dia 30 de Abril a nova versão do Ipad. E o que é que esta versão tem, que as outras não têm? Wifi e 3G, ou seja, agora já poderão navegar na internet em qualquer lado, desde que haja uma ligação wireless. Nada mal, tendo em conta as inúmeras lacunas deste aparelho. Mas não se entusiasmem, porque este será um lançamento confinado aos cinquenta estados do Tio Sam.

Deixando o mundo dos computadores e das consolas, passamos agora para o dos relógios. Esqueçam o facto de esta coisa ser à prova de bala e de a sua bateria se carregar sem fios; olhem só para ele. Construído sobre quatro micro-motores, cada um com a função de fazer mover uma espécie de correia, o Devon Works Tread 1 foi criado por engenheiros espaciais de uma companhia canadiana, para complicar a simples tarefa de ver as horas. Por este facto, o relógio justifica os quinze mil doláres que custa. O resto da justificação para o preço é dada pelas caras de admiração e bocas abertas que vai conseguir, se usar uma coisa destas no pulso.

Escrito por Abílio Diz para o blog OVerdadeiroPortugal e Jornal Fórum

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Vendas da Nintendo ajudam Portugal a ser o mercado que mais cresceu na Europa

Segundo dados da analista de mercado GfK – apresentados hoje pela Nintendo numa conferência de balanço de 2009 –, o mercado dos videojogos em Portugal totalizou 189,83 milhões de euros no ano passado, o que significa mais 27,5 milhões do que no ano anterior.

Passaram 11 meses desde que a Nintendo passou a ter presença directa em Portugal. A estratégia está a dar frutos e só as vendas da Wii (uma consola que se destacou pelo preço reduzido e pelo controlo através de gestos) subiram 144 por cento.

A melhor performance do mercado português face aos congéneres europeus deve-se em parte à presença directa da Nintendo, defendeu, ao PÚBLICO, Rafael Martinez, director-geral adjunto da Nintendo Ibérica.

Dos 27,5 milhões que o mercado cresceu, a maioria foram conseguidos graças à venda da Wii (que, contando com jogos e outros produtos, conseguiu em 2009 mais 15,4 milhões do que em 2008) e da portátil DS (mais 6,1 milhões).

Aumentar o número de jogadores

Em Abril do ano passado, a Nintendo pôs fim a 17 anos de parceria com a empresa Concentra, que era a representante em Portugal. “Acho sinceramente que a Concentra fez um bom trabalho”, sublinhou Martinez, “mas há coisas que a marca pode fazer e que o distribuidor não pode”.

“Se tivéssemos chegado antes ao mercado português, não teríamos tido os meios necessários”, referiu o executivo, quando questionado se a empresa deveria ter há mais tempo assumido directamente o mercado português. Martinez, porém, admitiu que a empresa “tem de pagar o preço” por só o ano passado se ter instalado em Portugal.

Quando implantou a presença directa em Portugal, a Nintendo anunciou que tinha como estratégia alargar o mercado dos videojogos. Ou seja, a ideia é aumentar o número de pessoas que jogam, em vez de simplesmente tentar conquistar uma fatia maior do mercado já existente – algo que, de resto, seria muito difícil, dada a sólida quota de mercado detida pela Sony, com a família de consolas PlayStation.

“Um mercado maior será benéfico não apenas para a Nintendo, mas para toda a indústria”, afirmou Martinez, durante a conferência.

Ainda de acordo com os números da GfK, a consola Wii tinha, no final de 2009, uma quota de 30,2 por cento das consolas domésticas. Em 2008, este valor estava nos 14,7 por cento. A PlayStation continua a liderar.

Ao todo, já foram vendidas 118 mil Wii em Portugal e 205 mil DS, a consola portátil da marca. Fazendo a comparação com o mercado espanhol, onde a multinacional japonesa tem presença directa desde 2006, os números empalidecem. Há 2,2 milhões de Wii e 4,5 milhões de DS em Espanha, valores que não se explicam apenas com as diferenças demográficas. Porém, ao longo de 2009, nota Rafael Martinez, as vendas nos dois países estiveram, proporcionalmente, muito mais próximas.

DS em tamanho XL

Amanhã chega ao mercado europeu a DSi XL, uma versão aumentada da consola portátil da Nintendo, com dois ecrãs de 4,2 polegadas de diagonal.

O objectivo da empresa com este dispositivo, explicou o director de marketing, Nicolas Wegnez, é “juntar mais gente à volta da consola”. Seguindo a estratégia da marca de apelar a públicos mais afastados do perfil tradicional dos jogadores de videojogos, a XL pretende cativar tanto utilizadores infantis, como os mais velhos.

A consola – que será vendida por um preço a rondar os 180 euros, embora possa haver variações consoante os retalhistas – foi lançada em Novembro do ano passado no Japão e chegará mais no final do mês aos EUA e Austrália.

Fonte: Destakes

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Miguel Sousa Tavares: Do Taguspark ao Annapurna

1 Nós, portistas, pertencemos a um grande clube: carregando o título de tetra-campeões, habituados que estamos a ganhar como ninguém mais nas últimas décadas e, arredados deste título, despedidos da Champions, humilhados na final da Taça da Liga e até já afastados da próxima edição da Champions (a não ser por via de um milagre), ainda conseguimos meter 20.000 num dia de semana no Dragão para assistir à meia-final da Taça, que já estava práticamente resolvida, e quase 30.000 quatro dias depois, para um jogo do campeonato, disputado 24 horas depois de se saber que o Braga havia ganho e, com isso, tinham morrido as ilusões de ainda poder lutar por um lugar na próxima edição da principal competição europeia. Porquê? Porque queremos ver o Falcao como melhor marcador da Liga, porque tínhamos saudades de ver o Hulk jogar e… porque gostamos de futebol e já só temos mais quatro ocasiões para ver a nossa equipa, antes que o pano desça sobre esta época triste.
Porque, quanto ao resto, já ninguém alimenta dúvidas: vamos ganhar a Taça, pese ao respeito que deve merecer o notável Desportivo de Chaves, que trouxe Trás-os-Montes ao Jamor. E acrescentaremos isso à Supertaça e a uma mais do que razoável presença nos oitavos-finais da Champions — que teria sido bem mais grata se não tem acabado com o massacre de Londres. Mas, o que nada nos pode consolar é deste tão pouco habitual terceiro lugar no campeonato — onde a equipa que nos vai ficar imediatamente à frente é formada, numa terça parte, por jogadores dispensados ou emprestados por nós. Arrancámos tarde na recuperação (assim que o Hulk foi liberto das garras do CD) e nem Benfica nem Braga cederam. E, agora, «les jeux sont faits»: o Benfica será campeão e o Braga irá tentar a improvável qualificação para a fase final da Champions. A nós, resta-nos a Liga Europa e a lição a extrair dos erros cometidos esta época.

2 Num artigo que me pareceu bem informado, o Diário de Notícias escreveu que a direcção do FC Porto «já decidiu quem são as estrelas transferíveis no final da época: Bruno Alves e Raul Meireles». Todos os outros, acrescenta o jornal, apenas serão transferíveis pela cláusula de rescisão. Com uma excepção notável: Hulk, cuja cláusula de rescisão é para inglês ver. Se a informação está certa, quer isto dizer que, tirando o Varela, que está lesionado, e o Álvaro Pereira e o Falcao (as únicas boas aquisições do último defeso), a SAD azul e branca está pronta a vender os outros jogadores que têm valor no mercado que interessa: Bruno Alves, Raul Meireles e Hulk.

Mas, como Pinto da Costa disse há dias que vai «engordar» e não «emagrecer» o plantel, isto aponta (se a notícia do DN está certa), para que o emagrecimento se faça onde não convém e a engorda onde não é recomendável. Ou seja, e como habitualmente: sairão dois ou três dos que interessam e ficarão todos os que não interessam- nem a nós, nem, obviamente, aos grandes clubes que pagam o preço pelo qual vale a pena vender. Depois, e se também se seguir a regra habitual, entrarão mais uma dúzia — dos quais dois serão bons ou aproveitáveis e o resto paisagem. E assim se engordará o plantel e a inimaginável folha salarial do clube, responsável pelos défices acumulados e pela necessidade, todos os anos repetida, de vender os bons jogadores para poder pagar aos maus. Oxalá, desta vez me engane, porque este filme já o vimos demasiadas vezes. E o que eu sei é que o Lisandro e o Cissokho estão nas meias-finais da Champions e o Lucho está à beira de ser campeão de França pelo Marselha, após dezoito anos de jejum…

3 Creio que não haverá mais do que três portugueses que acreditam, ou fingem acreditar, que Luís Figo é um notável inocente no negócio da Taguspark e da campanha eleitoral do PS, de que ele foi a peça central de toda a engrenagem. São eles José Sócrates, João Bonzinho e a magistrada do Ministério Público que acaba de deduzir acusação criminal contra todos os envolvidos, excepto Luís Figo.

José Sócrates, perguntado (há dois meses atrás) se os contornos do negócio que então já eram conhecidos não apontavam para um caso de utilização de dinheiros públicos para o financiamento da campanha do PS, declarou, ofendido, que «isso é uma infâmia! O Figo é um dos heróis da minha geração e o seu apoio foi totalmente desinteressado». Ele, pois, jurou acreditar que Figo (que, todavia, se declarara há tempos simpatizante da direita), afinal e em Outubro passado, teve um súbito rebate de consciência socialista. Para o qual, obviamente, em nada contribuiram os 750.000 ou 2 milhões de euros (na versão do Ministério Público) que a Taguspark lhe pagou. Que foi isso e só isso, esse rebate de consciência cívica, que o moveu a dar uma oportuna entrevista ao Diário Económico, com um rasgado elogio à governação de Sócrates (entrevista essa enviada previamente para aprovação do destinatário do elogio ou do seu staff de campanha) e a comparecer a um muito mediatizado pequeno-almoço com o PM, mesmo no final da campanha eleitoral.

Tudo não teria passado, como explicou João Bonzinho, de um banal contrato de publicidade ou venda de imagem, coisa que ele faz habitualmente. Embora, neste caso, excepcionalmente bem pago, a troco de um simples filme de publicidade, filmado numa tarde e jamais utilizado, e do compromisso de, uma vez por ano e durante três anos, comparecer em eventos públicos da Taguspark. Tudo pago por uma empresa com 100% de capitais públicos e a uma off-shore de que Figo é titular — sem impostos nem outros inconvenientes.

Também a delegada do MP, não querendo incomodar o cidadão Luís Figo — a quem, segundo João Bonzinho a Pátria tanto deve — conseguiu construir uma tão elaborada tese jurídico-penal que mesmo quem tem formação juridica vê-se às aranhas para tentar entender. Em resumo, ela descobriu um crime de corrupção em que os corruptores passaram a corrompidos, o corrompido passou a testemunha e assim ficou o crime de corrupção… sem corruptores. Uma originalidade, assaz imaginativa. E fundada, segundo ela, na crença que teve de que Luís Figo ignorava que a Taguspark fosse uma empresa pública: ignorava ele, o seu agente, o seu advogado, etc, etc. Todos, segundo o MP, acreditaram piamente que uma empresa que se dispunha a pagar 750.000 a 2 milhões de euros em troca dum pequeno almoço com Sócrates, e de um par de horas de filmagem no mesmo dia, podia ser, vejam lá, uma empresa privada, sem nenhuma relação com a política e agindo apenas, e tal como o próprio Figo, por um desvelado amor à Pátria e à governação de José Sócrates!

Eu penso que, de facto, não havia por onde incriminar Luís Figo. E não havia, porque ele, não sendo funcionário público nem sujeito a tutela pública, nunca poderia ser o «corrompido» de um crime de corrupção. Simplesmente, vendeu a imagem e, desta vez, não foi à Galp ou ao BPN, mas ao próprio governo em funções. Mas isso não é crime, nem havia crime algum de corrupção. Haveria, sim, talvez um crime de prevaricação ou semelhante ou de financiamento ilegal de campanha eleitoral, incriminando quem utilizou dinheiros públicos indevidamente. Porém e por razões que cada um presumirá como entender, quis-se ir para a hipótese mais gravosa — o crime de corrupção. E isso obrigou a uma ginástica jurídica que desembocou nesta fantástica fábula dos maus rapazes que, para prestarem um serviço ao «chefe», se aproveitaram da ignorância e da inocência de um cidadão patriota, convencido de que estava apenas a ganhar a justa paga pelo seu penoso trabalho e a exprimir as suas livres e judiciosas opiniões sobre os destinos da Pátria. Por favor, não venham tentar fazer de nós todos parvos!

4 Eu olho para o Eduardo, titular da baliza do Braga e da Selecção, e vejo o Ricardo II: a mesma agilidade nas defesas frontais, a mesma inépcia perigosa no jogo aéreo. E, tal como o Ricardo, raro é o jogo que lhe vejo em que ele não tem uma saída em falso ou comprometedora numa jogada pelo ar — mas, tal como o seu antecessor na baliza de Portugal, a sorte está quase sempre com ele. Esta semana não esteve e ofereceu assim um golo ao Leixões.

O mesmo digo do Helton, e esta semana, por opção e depois por lesão, o Beto substituíu-o na baliza do FC Porto, no jogo da Taça e no jogo do campeonato. E foi uma tranquilidade de há muito não vista: zero golos sofridos e alguns evitados e, acima de tudo, o espaço áreo dominado pelo guarda-redes, como deve de ser. Não tenho uma dúvida de que o Beto é muito melhor que o Helton. Mas, acima de tudo, por mais voltas que dêem, continuo convencido de que um guarda-redes que não domina o espaço aéreo que é seu, é um perigo à solta — por melhor que seja entre os postes.

5 Se ter jeito para um desporto e representar o seu país nesse desporto é ser patriota, então, para mim, patriota é o João Garcia, que acaba de entrar na lista dos dez únicos seres humanos que conquistaram as 14 montanhas que existem com mais de 8.000 metros de altura e sem recurso a oxigénio artificial. Sexta-feira, ele plantou a bandeira de Portugal no alto do Annapurna, depois de dezassete anos de esforços e sacrifícios para o conseguir. Com risco de vida, com marcas no corpo desde o Everest e sem receber um tostão do país para isso.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

sábado, 17 de abril de 2010

Heavy Rain: jogo recria as expressões e emoções humanas (vídeo)

Rui Moreira: Um Prémio de Consolação

O Benfica ganhou ao Sporting e garantiu o título. Ao contrário do que tem sido a atitude de muitos benfiquistas, que sempre relativizaram as vitórias nacionais e internacionais do FC Porto, apesar de considerar que o seu clube foi o grande beneficiado pelas toupeiras e, como se voltou a ver neste jogo, pelos erros e critérios dos árbitros e pelas vergonhosas nomeações da Comissão de Arbitragem, felicito-os porque, também no relvado, a sua equipa foi a melhor.

Antes disso, em Vila do Conde, contra uma equipa em crise que acabara de sofrer duas cabazadas, o FC Porto fizera mais uma exibição paupérrima. Ganhou porque o poste ajudou, porque Helton se aplicou, porque Sidnei se deslumbrou e porque Farías voltou. Com o segundo lugar a uma distância quase inalcançável, esperava-se que o FC Porto entrasse com vontade de resolver a partida. Em vez disso, Jesualdo voltou a apostar numa equipa tristonha. Felizmente, já não falta muito para acabar este triste campeonato.

Na quarta-feira, e pela terceira vez em poucas semanas, o FC Porto voltou a encontrar o Rio Ave, desta vez para acertar as contas da Taça de Portugal. Com uma vantagem de dois golos, a passagem à final, onde estarão os bravos flavienses, estava mais do que garantida e, por isso, Jesualdo fez algumas mudanças na equipa. Num jogo a feijões, esperava-se que Nuno André Coelho tivesse uma oportunidade para jogar. Afinal, Jesualdo não lhe deve ter perdoado, ainda, não ter sido capaz de jogar a trinco em Londres. Desta vez, pelo menos, deixou que Fucile alinhasse de início, depois de ter cumprido o castigo que lhe foi imposto por esse mau jogo. O uruguaio, que se diz estar de saída, pareceu desmotivado, o que não é caso virgem no plantel.
Ainda assim, e após o jogo do Dragão, Jesualdo voltou à velha ladainha de que a equipa está a crescer e que os jogadores estão a entender os processos. Não se sabe muito bem porquê, nem de que processos o treinador fala, mas tudo aquilo que nos conta começa a ser repetitivo e irrelevante.

Há quem diga que este FC Porto foi igual ao do ano passado, e que só não renovou o título porque a concorrência foi melhor. Não sei se faz grande diferença saber se são os adversários que estão melhor, se é o FC Porto que está pior, ou se ambas as coisas são verdade. O que é inegável é que o investimento em jogadores não foi judicioso e as opções tácticas não foram as melhores; a equipa não cresceu, para usar o estafado jargão de Jesualdo Ferreira, e não teve a atitude do costume. Ora, todos sabem que um FC Porto que não joga à Porto não pode ganhar títulos.
O FC Porto estará, pela terceira época consecutiva, na festa de Oeiras. Claro que essa façanha, que tanto empolga os adeptos de outros clubes a quem disfarça muitas épocas falhadas, mais não é que um prémio de consolação para os portistas que, neste momento, já só anseiam pela nova época.

As velhas esparrelas
A propósito da próxima época, e enquanto o tabu do novo treinador perdura, Pinto da Costa prometeu que o clube não vai voltar a cair na esparrela como o túnel da Luz. É a primeira vez que se admite que alguma coisa falhou, nesse dia, ao nível da organização do clube. Ora, conhecendo-se o que já se passara na época passada, e no mesmo túnel da Luz, é caso para perguntar porque razão não houve, já este ano, o cuidado de prevenir o pior e de, pelo menos, impedir que os jogadores voltassem a sair da cabina para responder às expectáveis provocações. É para isso, também, que servem os dirigentes. Enfim, é nos anos maus que se apreendem as lições e que se fazem as melhores opções para o futuro.

A tal final antecipada
GARANTIRAM-NOS, não se sabe bem porquê, que era uma final antecipada. Afinal, a eliminatória foi desequilibrada, e ainda não foi desta que o Benfica recuperou o seu estatuto internacional. Não admira: não está ao alcance de qualquer equipa portuguesa competir ao mais alto nível do futebol europeu. Com alguma azia, Ricardo Araújo Pereira concluiu que essa foi a vitória da época para FC Porto e Sporting. Está enganado. A grande vitória dos portistas aconteceu em Lisboa, na sede da FPF, quando goleou, e pela lendária marca de sete a zero, um dos ídolos do Benfica que, por azar do destino, só serve para consumo interno, já que não tem qualquer utilidade nas competições europeias.

As contradições
ESTA época, a carreira do Sporting de Braga tem sido, a todos os títulos, excepcional. Não joga um futebol vistoso como o Benfica, não tem os valores individuais do FC Porto, e também é verdade que, aqui e ali, a sorte lhe tem sorrido. O que me espanta é que, depois de tantas vitórias, e de se manter na cola do Benfica e à frente dos portistas, ainda haja quem continue a afirmar que os méritos devem ser repartidos entre Domingos Paciência e o seu antecessor. O que é mais curioso é que quem o diz são os mesmos que criticam o tipo de futebol pouco ousado da equipa minhota, e que recordam a época passada, em que o Braga de Jesus jogava com um dispositivo táctico muito diferente…

As escolhas de Jesus
POR falar em heranças, Jesus não teve sorte ao ressuscitar a tão discutida escolha do seu antecessor Quique Flores, utilizando David Luiz como lateral-direito. Perdeu o seu melhor central, e não terá ganho um excelente defesa-direito. Também não lhe correu bem a escolha de um guarda-redes pouco rodado para um jogo de capital importância. Curiosamente, Jesus beneficiara, na final do Algarve, de idêntica escolha infeliz por parte do seu opositor. Já contra o Sporting, Jesus voltou a acertar na alteração táctica que fez ao intervalo. É assim o futebol, um jogo imprevisível em que os resultados também são feitos por pequenos detalhes, por opções e escolhas discutíveis, e pelos caprichos da fortuna.

Rui Moreira n' A Bola.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Algumas reflexões…

Grande parte da comunicação social portuguesa (há sempre bons e raros exemplos!) constitui um fenómeno que muito bem poderia ser a base de um trabalho de investigação científica que teria como título: “Mandar a isenção (um dos principios fundamentais do jornalismo) às urtigas!”.

O alarido feito à volta da arbitragem do Braga vs Guimarães da passada jornada é bem contrastante com os pouquíssimos elogios feitos à excelente prestação do Braga neste campeonato nacional. Se calhar o facto do Braga ainda lutar com o pré-anunciado campeão nacional ajuda à triste campanha de desvalorização e retirada de mérito de tudo o que de bom o Braga tem feito este ano. Parece que a comunicação social só se lembrou do Braga aquando da arbitragem do derby do Minho, porque o mérito dos bracarenses em ainda lutarem pelo título de campeão nacional, este tem sido muito pouco.

O problema é que o Braga adquiriu humildemente jogadores como Miguel Garcia e tem um orçamento de 8M€ e o seu adversário adquiriu grandes estrelas mundiais e tem um orçamento de várias dezenas de milhões de €. Se calhar o grande problema é que o Braga ainda luta pelo título, pelo que é o único pormenor que está a falhar no guião predefinido que a época 09-10 há muito parece ter: Campeão predefinido a bem da produtividade do país e do bem-estar do Zé-povinho, tão frustrado com as muitas agruras do seu clube nas ultimas décadas. O Braga é mesmo a última espinha na garganta de muita gente.

Igualmente ridículo e triste foi ver a forma desesperante e deprimente como a comunicação social tratou da última jornada europeia do futebol português. Se uma derrota por 5 golos em Londres frente a um Arsenal que luta pelo título e numa competição tão difícil como a Liga dos Campeões (a 1ª divisão europeia!) é considerada uma “humilhação” e “vergonha nacional”, alvo do falatório nacional durante muitas semanas, sempre pensei que fosse dado o mesmo relevo àquilo que aconteceu na ultima 5ª feira europeia.

Então não é que o melhor Benfica dos últimos 20 anos (não é o que todos dizem?) foi goleado pelo pior Liverpool dos últimos 15 anos numa competição que constitui a 2ª divisão europeia, e o que disseram os jornais? Pois, foi uma “lição para o futuro”, um simples “traumatismo” ou apenas uma “noite menos boa”. Esta constante intoxicação da comunicação social é frequente e cada vez mais uma realidade. O pior é que muita gente cai no “engodo”...

Ao ver o jogo do Leiria vs Braga, dei por mim a pensar: Mas este Alan, o grande motor ofensivo de um Braga que caminha a passos largos para um lugar na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, e que tem feito uma excelente época será pior jogador que por exemplo o Mariano Gonzalez? De seguida, pensei noutros dois nomes; Vieirinha e Paulo Machado. Logo questionei o seguinte, será que estes dois jogadores, formados no FC Porto, fariam pior figura que um Valeri, um Guarin, um Prediger ou um Beluschi? Por fim, pensei: mas que aproveitamento será dado à excelente época que Castro e Ukra têm feito no Olhanense? Para o ano terão as mesmas oportunidades no onze inicial que a maioria dos estrangeiros que todos os anos contratamos aos “caixotes”?

Estas minhas últimas questões estão intimamente ligadas com uma situação que mais cedo ou mais tarde terá de ser resolvida. A escolha do treinador das próximas épocas. Jesualdo já fez o seu bom percurso e devemos-lhe muito, mas penso ser a altura de dar lugar a sangue novo, a novas ideias e sobretudo ao corte de algumas práticas que não têm sido boas do ponto de vista da escolha dos jogadores. A aposta terá de ser em alguém arrojado, sem medos e, MUITO IMPORTANTE, que não olhe a nomes, nem a nacionalidades na escolha do onze inicial. No fundo, uma escolha de ruptura com o que de mau tem sido feito, e de continuidade com a hegemonia que o FC Porto detém nas últimas décadas. Tem a palavra quem decide...

GM acaba com a marca Hummer

"Se surgirem alternativas viáveis para toda ou parte da marca durante esse processo, serão levadas em conta." A venda da Hummer era parte de um plano da GM para reduzir as marcas americanas de oito para quatro. A montadora vendeu a marca Saab na terça-feira, mas como não surgiu um interessado de última hora na Hummer, a divisão será fechada, junto com a Pontiac e Saturn.

A chinesa Tengzhong não conseguiu "obter autorização dos órgãos reguladores chinesas dentro do prazo proposto para o negócio", segundo comunicado da montadora.

Essa rejeição foi o último obstáculo enfrentado pela Tengzhong que tenta entrar no mercado em expansão na China, de carros de passageiros. O governo tem promovido a venda de carros pequenos, reduzindo os impostos para carros com motores 1.6 ou menos potentes, em contraste com os motores dos modelos Hummer, que podem pesar até três quilos.

"É normal o fato de o governo chinês não aprovar o negócio", disse Lin Huaibin, analisa da IHS Global Insight, em Xangai. "Permitir a venda desse tipo de veículo em grande escala não se coaduna com a política do governo". O ministério do comércio examina cuidadosamente todos os investimentos estrangeiros de mais de US$ 100 milhões. Negócios de menor porte são analisados por órgãos reguladores locais. A State Administration of Foreign Exchange também fiscaliza os investimentos no exterior feitos por companhias chinesas.

A China tem encorajado as montadoras a produzir carros econômicos, incluindo os híbridos, para aumentar as vendas no exterior e reduzir as importações de petróleo e a poluição doméstica. O Hummer H3T, 3.7, faz 22,5 quilômetros com 1 galão de gasolina (3,8 litros) na cidade, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.

Incentivos para a fabricação de carros pequenos, combinados com subsídios para as áreas rurais, aumentaram as vendas na China, no ano passado, para 13,6 milhões de veículos. O país suplantou os Estados Unidos como o maior mercado automotivo do mundo.

A GM decidiu se concentrar a partir de agora nas marcas Chevrolet, Buick, GMC e Cadillac nos Estados Unidos, depois de encerrado o seu processo de recuperação judicial, previsto para 10 de julho.

A chinesa Tengzhong, fabricante de veículos de uso especial, estruturas para rodovias e pontes e máquinas de construção, tinha acertado a compra da Hummer em outubro do ano passado.

Fonte: ultimosegundo

Crónica de Miguel Sousa Tavares: Um deus na relva

1 Lionel Messi é o futebol resgatado do seu lado submerso e mesquinho. Quando o vejo jogar, compreendo como tudo o resto é estúpido e quase me envergonho de perder ainda tempo a discutir túneis e árbitros com quem vê no futebol quase só uma guerra tribal e uma escola de ódios organizados. Messi tem cara de miúdo, envergonhado pelo seu génio e quase pedindo desculpa por ter de enver- gonhar os seus colegas de profissão, lá em baixo no relvado, onde ele faz com uma bola nos pés e à vista do mundo o que nós fazemos em sonhos ou imaginamos que será possível fazer. Lá, no alto da bancada, estão os figurões da bola, os que compram clubes como poderiam comprar cavalos de corrida ou iates de trinta metros, os que dirigem os clubes como coisa sua, explorando em benefício próprio a paixão dos adeptos ou o talento de jovens como Lionel Messi. De vez em quando, as câmaras de televisão desviam-se do relvado e de Messi e focam-se lá em cima, no que chamam a «bancada presidencial», onde os figurões se fazem tratar por «presidente» e olham de cima, como se fossem Césares contemplando os seus gladiadores.

Gosto do jeito de miúdo envergonhado deste deus dos estádios. Ele não tem tatuagens, nem brincos, nem exibe os peitorais para as câmaras, não discute com os árbitros em atitude de vedeta, não finge faltas que não sofre, mesmo quando as sofre, e não protesta, mesmo quando um caceteiro brutal como o Xabi Alonso tenta arrumá-lo do jogo à porrada. Nas férias, ele não é «flagrado» com «miúdas de programa», contratadas pelo seu agente de imprensa para prolongar a sua aura fora do estádio. Ninguém sabe como vive e o que faz quando não está a fazer o que interessa e o que nos deslumbra, que é a jogar futebol. E em nenhum momento, Messi se acha superior ao Barcelona, que o revelou ao mundo, ou se esquece da responsabilidade social, cultural, histórica, de representar a cidade de Barcelona e a Catalunha: esse foi o erro de apreciação de Luís Figo. Jamais veremos Messi a ser alvejado com moedas ou cabeças de porco. Ele não joga por dinheiro, joga porque recebeu um mandato divino para o fazer.

Na terça-feira, Lionel Messi destroçou o Arsenal, num jogo de futebol que quem viu nunca esquecerá; no sábado, abriu caminho à lição de futebol que o Barcelona de Guardiola — provavelmente a melhor equipa que jamais existiu — foi dar a Chamartín, reduzindo a pó a soberba de um exército de vedetas comprado a peso de milhões, mas onde faltam exuberantemente a humildade, o profissionalismo e a generosidade. O olhar triste de Iker Casillas, o capitão do Real Madrid, no final do jogo, dizia tudo: ele percebeu que os milhões gastos a comprar os colegas que jogam à sua frente não tinham feito do Real uma equipa, no verdadeiro sentido da palavra. É por isso que eu gosto tanto de ver os grandes, como o Real, ou o Manchester, ou o Milan, a perder. Para tentar acreditar que o dinheiro não faz toda a diferença.

2 Com duas sessões de Barcelona e Lionel Messi em poucos dias, fica difícil descer à terra e falar do futebol de um planeta satélite. Lá vi o Benfica a perder em Liverpool, reclamando do cansaço (o que até poderia ser desculpa razoável contra outra qualquer equipa, não contra uma das equipes de topo inglesas, que jogam 60 jogos por época). O Liverpool destroçou o Benfica como qualquer grande equipa inglesa destroça normalmente as portuguesas. Com futebol directo, velocidade, desmarcações, cruzamentos, remate fácil e muito treino. Riram-se muito quando o FC Porto levou cinco do terceiro classificado do campeonato inglês, mas mesmo o tão louvado Benfica deste ano mostrou estar a milhas do sexto classificado de Inglaterra. A verdade é essa: o dinheiro não faz toda a diferença, mas sempre faz muita.

3 Hoje à noite, o Benfica, se olharmos para a tradição, não é favorito contra o Sporting, mesmo na Luz. Pode muito bem perder pontos, dois ou três, e reabrir a luta com o Braga. Mas, acredito, apenas isso: reabrir a luta, nada mais.

E o Braga lá ganhou mais um jogo, como habitualmente: uma dose de sorte, outra de capacidade defensiva a disfarçar um futebol de ataque muito mau, muito esforçado, muito sem talento. Dois golos marcados de seguida — um oferecido pelo guarda-redes, outro oferecido por um defesa — e mesmo assim concluído com um remate falhado que encontrou a baliza. Será que consegue ir assim até ao fim?

Ao FC Porto fez mal jogar depois de saber o resultado do jogo do Braga, porque isso tirou a motivação aos jogadores. Pior ainda foi a absurda decisão da RTP de o pôr a jogar num horário quase coincidente com o do Real Madrid-Barcelona. Enfim, lá ganharam, cumprindo os mínimos. Resta ganhar a Taça e encerrar uma época de má memoria, que se começou a perder no saldo de comprar e vendas do final da época anterior. Disse Pinto da Costa que, para o ano, não se repetirão erros e ingenuidades como os túneis e outros mais, não nomeados. Eu espero bem que sim e que, entre os erros não nomeados mas directamente responsáveis pelo fiasco desportivo e financeiro, não se repita o erro de deixar o dr. Adelino Caldeira meter o nariz nas contratações e negócios de compra e venda de jogadores. Que se recuperem alguns talentos que se andam a perder entre as dezenas de jogadores emprestados que sobrecarregam, sem contrapartida alguma, a folha salarial do clube, trocados habitualmente por negócios sul-americanos sem sentido — para dizer o mínimo. Pelas minhas contas, a «limpeza de activos» que visivelmente se recomenda para a época seguinte, inclui nada menos do que uns catorze jogadores a despachar.

4 Disse Pinto da Costa também que se vai recandidatar ao 14.º, 15.º ou 16.º mandato — já lhes perdi a conta. E disse que só o faz, porque este foi um ano falhado — porque, se tem chegado ao «penta» prometido a Pedroto, ia-se embora. Ora, escusava de ter explicado: se a sua vontade era mesmo essa, deveria tê-lo dito antes — no início da época, por exemplo. Assim, acredita quem quiser. Eu, pessoalmente, acredito, sim, que, para o bem e para o mal, ele jamais de lá sairá pelo seu pé. Como então o escrevi, ele teve, como poucos têm, uma oportunidade rara de ter saído em ombros e ter deixado o seu nome para sempre, como o de um vencedor. Foi em 2004, depois de ter ganho a Champions e de ter sido campeão nacional. Teria saído então, deixando o clube campeão europeu, com um estádio novo e maravilhoso e um excedente financeiro, resultante da venda de parte da equipa campeã europeia, que teria dado para pôr o défice a zero. Mas não quis, o que também foi legítimo. Só que agora corre atrás da História, convencido, ou talvez não, que se consegue entrar num comboio em andamento depois de se ter falhado o embarque com ele parado. Deve-lhe custar ver o exemplo de Laporta, no Barcelona: ganhou, tudo, absolutamente tudo o que havia para ganhar, e agora vai-se embora, pela porta grande. As grandes instituições são sempre maiores que qualquer homem.

5 No auge do campeonato, Leixões e Belenenses conseguiram ambos roubar preciosos pontos ao FC Porto, arrancando dois empates (o Belenenses no Dragão) pelo método do autocarro e do anti-jogo. Vendo-os jogar então, e confirmando que ali estavam, sem dúvida, as duas piores equipas do campeonato, fiquei a pensar de que lhes teria servido aqueles exercícios de anti-futebol, saudados como triunfantes vitórias. «Se ao menos — pensei para comigo — jogassem assim também e fizessem o mesmo ao Braga e ao Benfica…!». Mas não, não fizeram. Continuaram a jogar mal e nada mais. Agora, vão os dois para a segunda divisão. Confesso que não tenho pena alguma: não por terem roubado pontos ao FC Porto, mas por o terem feito da forma que o fizeram e apenas com o FC Porto.


Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A lata dos enfermeiros








Os enfermeiros marcaram umas férias, perdão, uma greve de quatro dias. Porquê? Não se percebe. Mas fica a ideia de que querem ganhar mais do que os médicos.

I. A lata dos enfermeiros continua . Para começar, uma greve séria não tem quatro dias. Uma greve séria não é marcada para os quatro dias imediatamente anteriores ao feriado da Páscoa. Assim, até parece que os senhores enfermeiros marcaram umas férias antecipadas. Caro enfermeiro, se não quer ser confundido com o lobo, não lhe vista a pele.

II. Fazer reivindicações sem sentido é o desporto do nosso sindicalismo. Os enfermeiros não são excepção. Agora, Suas Excelências querem ganhar 1200 euros logo no início de carreira. Não se percebe porquê. Em primeiro lugar, um licenciado na função pública não pode ganhar 1200 logo à partida (se ganhar, o país enlouqueceu mesmo). Em segundo lugar, se ganhar 1200 euros, um enfermeiro fica a ganhar quase tanto como um médico em início de carreira. E, lamento, isso não faz sentido.

III. A diferença entre os 1500 euros do jovem médico e os 1000 euros do jovem enfermeiro é a diferença justa. Aliás, parece-me que já beneficia, e muito, o enfermeiro. Porque a responsabilidade do médico é, obviamente, superior à do enfermeiro. Dentro do hospital, o médico é superior ao enfermeiro. Lamento, mas as coisas são assim, por mais lógicas corporativas que os enfermeiros invoquem. O corporativismo sindical não pode abolir as óbvias diferenças técnicas e de responsabilidade que existem dentro de um hospital.

IV. Quando se fala com os enfermeiros, parece existir sempre uma espécie de ressentimento "classista" contra os médicos. É como se os enfermeiros estivessem a gritar contra os médicos: "olhem, olhem, nós agora também somos licenciados, e sabemos tanto como vocês". Será por isso que os enfermeiros não fazem o trabalho "sujo" nos hospitais? Será por isso que tem de haver aquele batalhão de auxiliares para as tarefas sujas e simples? O dr. enfermeiro já é demasiado fino para limpar o rabo aos velhinhos? É isso?"

terça-feira, 6 de abril de 2010

Crónica de Miguel Sousa Tavares: Para acabar de vez com os túneis

1 O único jornal desportivo que leio diariamente, excepto em circunstâncias excepcionais, é este. Não só porque aqui colaboro, mas porque A BOLA é o meu jornal desportivo desde a infância — e aquilo que mais me custa é mudar de hábitos quando não vejo razão para o fazer. Tudo o que sei, pois, sobre o acórdão do CJ li-o aqui na BOLA. E, assim sendo, não posso deixar de reclamar por ter sido necessário Pinto da Costa dizê-lo na televisão, para eu ficar a saber que o acórdão do CJ que desautorizou em toda a linha a pífia doutrina jurídica do CD e de Ricardo Costa, foi outorgado por unanimidade dos sete membros-juízes. Por unanimidade! Dos sete votantes! Acho mal que este jornal, que pela pena do José Manuel Delgado, logo no dia seguinte começou a contestar a sentença do CJ, chegando ao ponto de atribuir a demissão de Hermínio Loureiro à presumida indignação que tal sentença lhe terá causado, se tenha abstido de nos dar essa pequena-fundamental informação: que nem um só dos sete membros do CJ subscreveram a tese jurídica/desportiva de Ricardo Costa e José Manuel Delgado.

Mas, a este propósito, a desinformação tem sido mais do que muita. Por exemplo: os «justiceiros» acusam o CJ da absurda tese de considerar os stewards iguais aos espectadores, para efeitos disciplinares. Ora, isso é falso. O acórdão não diz tal coisa: diz sim, que não sendo a lei explicita em qualificar quem são os agentes desportivos e sendo absurdo considerar os stewards como tal, havendo necessidade de punir uma agressão sobre eles, a solução menos chocante é equipará-los aos espectadores, para esse efeito, e para esse efeito apenas. Mas, vendo aí uma tábua de salvação, logo vieram os «justiceiros» lembrar o caso de Eric Cantona e a sua célebre agressão a um espectador, durante um jogo do Manchester United. E, perguntam, muitos espertinhos: então o Cantona agrediu um espectador e levou sete meses e o Hulk e o Sapunaru agridem um equivalente a espectador e levam só três e quatro jogos?

Quem assim argumenta está de má-fé e denuncia-se. Eles não querem, nem nunca quiseram, defender uma justiça que todos compreendam e que se faça respeitar. A única coisa que querem é dar largas ao seu ódio ao FC Porto, seja com que pretexto e com que método for. Para eles, a noção de justiça — desportiva ou comum — é simples: se é contra o FC Porto, eles aplaudem; se é a favor, é porque está também corrompida e pactua com o «sistema que vigorava» (já não vigora, desde que o Benfica passou para a frente). Se o Dr. Ricardo Costa condena o FC Porto e o seu presidente por factos que considerou provados no Apito Dourado, sim senhor, até que enfim que se faz justiça! Mas se, depois, quatro tribunais e seis magistrados judiciais consideram os factos não provados, a testemunha principal perjura e os absolvem, é porque infelizmente os juízes não tiveram coragem. Se o Dr. Ricardo Costa descobre uma nova categoria de «agentes desportivos» e com isso arruma o Hulk e o Sapunaru do campeonato, ah grande homem, que não tem medo de enfrentar o «sistema» e fazer Justiça! Mas se, depois, vêm os sete membros do CJ dizer-lhe que tenha juízo e não invente o que não está na lei, é porque ainda há resquícios do «sistema» encravados lá dentro. Um só homem — o Dr. Robin Costa — é que representa a justiça, contra tudo e contra todos!

Quem viu as tão faladas imagens do túnel da Luz e se lembra da imagem da agressão do Cantona sabe que os «justiceiros» só podem estar de má-fé. Nas imagens da Luz pouco mais se percebe do que uma molhada de gente, toda junta, empurrando-se e, eventualmente agredindo-se (a propósito: segunda-feira foi publicada aqui uma curiosa fotografia em que se vê o Hulk inclinado para trás e apoiado pelo Sapunaru, aparentemente acabado de receber ou tentando evitar uma agressão a murro de um segurança que se vê de punho estendido para ele. Quererão republicá-la e explicá-la?). Quanto ao Cantona, quem se lembra, recorda de certeza a extrema violência do gesto do francês, saindo do campo para enfiar um pontapé de karatê na cara de um espectador sentado na primeira fila da bancada, à vista de todo um estádio e todo um mundo televisivo. É preciso fazer da justiça uma palhaçada para defender a semelhança das situações, da sua gravidade e das respectivas punições.

Não querer ver isto, tentar fazer-nos acreditar que o que quer que se tenha passado entre os jogadores do FC Porto e os seguranças do Benfica no túnel da Luz justificava a mais grave punição disciplinar de sempre do futebol português, é pura desonestidade intelectual. Achar normal e justo que um dos melhores jogadores do campeonato ficasse, por causa disso, impedido de jogar durante quatro meses, é tirar a máscara do fair-play e da «moralização do sistema» e mostrar que se está pronto para ganhar a qualquer custo e de qualquer maneira. E esconder a mão atrás de uns regulamentos simplesmente imbecis, mas que, apesar disso e como se demonstrou, não permitiam a despudorada ginástica jurídica levada a efeito, é um exercício de hipocrisia indisfarçável.

De há muito que defendo que o futebol deveria ter um tribunal desportivo, que se substituísse à Comissão Disciplinar, e que julgasse pela equidade e pela jurisprudência, em substituição de regulamentos idiotas, feitos por juristas incompetentes e aprovados em Assembleias-Gerais onde mais de metade dos votantes nem percebe o que está a votar. Esse tribunal julgaria apenas e só segundo critérios de equidade e de justiça — de forma simples, expedita e que todos pudessem entender e aceitar. O Cantona saíu do campo para agredir um espectador que pagou bilhete para ver o jogo, deu-lhe um pontapé de uma violência inaudita, enfiando com ele no hospital, com um traumatismo craninano — sete meses de suspensão, porque aquilo, de facto, foi chocante e inqualificável. O Hulk envolveu-se no túnel, à vista de uma dúzia de pessoas, com um segurança que o provocou e que ali não deveria estar e, dizem os autos, enfiou-lhe um pontapé no traseiro — três jogos de suspensão e, pessoalmente, já acho um exagero (é bem mais grave partir a perna a um adversário, no campo). Esta justiça, todos compreenderiam e teriam de aceitar, e não seria preciso andar a discutir interpretações de regulamentos nem ficar dependente das fúrias justiceiras de um qualquer iluminado ou da composição clubística dos órgãos de justiça. Só haveria um problema e inicial: para que o tribunal pudesse julgar casos iguais de igual forma, seria preciso que antes tivesse sido estabelecida doutrina pacífica e clara. E, para isso, a primeira composição do tribunal, que julgaria então apenas segundo a equidade, seria decisiva. Seria necessário que os «Founding Fathers» desse tribunal fossem absolutamente prestigiados, insuspeitos e justos — para assim criarem jurisprudência, que os seguidores depois teriam de acatar. Mas, caramba, não seria possível encontrar cinco cidadãos justos e honestos disponíveis para inaugurarem esse tribunal?

2 Nas últimas jornadas, o FC Porto perdeu quatro pontos por erros de arbitragem contra Olhanense e Paços de Ferreira, ambos no Dragão. Acontece. Também acontecem arbitragens ainda mais infelizes que acabam a decidir jogos — como a de Artur Soares Dias, um dos mais promissores árbitros que temos, no Braga-Guimarães. Mas, se não têm acontecido esses três incidentes de percurso (e apenas falo dos recentes), o FC Porto estaria agora, não a cinco pontos de distância do Braga, mas sim com um ou dois de vantagem. E se o Braga estivesse ainda a discutir o campeonato com o Benfica e não já apenas a ida à Champions com o FC Porto, a arbitragem do jogo com o Guimarães teria incendiado o país. Convém, todavia, notar que o Benfica pode somar outra grande vitória à conquista do título: evitar que o FC Porto vá à Champions. Se isso suceder, os portistas perdem desde logo uma receita mínima previsível de 12/13 milhões de euros, que muito jeito dará para reforçar a equipa dos Guaríns e Valeris. E se, como eu prevejo, o Braga, ficando em segundo lugar, não sobrevive às eliminatórias da Champions, isso significa que o Benfica faz sua toda a receita dos direitos televisivos, sem ter de a dividir a meias com outro clube português participante na competição. Há que estar atento, Sr. Vítor Pereira.

3 E, por falar em arbitragens, também não me importava mesmo nada que, para o ano na Europa, o FC Porto encontrasse arbitragens tão, tão, tão simpáticas como a que o Benfica encontrou contra o Liverpool.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

i recebe 13 prémios da Society for News Design

O i ganhou 13 prémios na 31ª edição do concurso mundial de desenho jornalístico da Society for News Design (SND). De entre os 13 galardões estão duas medalhas de prata, uma para a secção “iReportagem” e outra para o portfolio sobre os bastidores da pornografia de José Pedro Tomaz.

O i volta a estar entre os melhores do mundo, a par do Expresso (19 prémios) e do Público (5 prémios)


Veja os 13 prémios que o i recebeu:

Medalhas de Prata


Photography/Multiple Photos, Project page or spread, “Nos bastidores da pornografia”
News Design/Sections, Other, “iReportagem”

Menções honrosas


Special news topics, Editor's Choice: National, Taking the measures of the prime minister
News Design/Page(s), A-Section, Lots of noise, little action: The war of words has begun
Feature design pages, Lifestyle, How do you get to the center of Lisbon?
Feature design pages, Fashion, Paris Fashion Week
News Design/Page(s), Other, The new troops come from America
Magazines, Inside features page design, You can laugh any time of the day
Magazines, Special Editions, Voluntarios
Photography/Multiple Photos, Project page or spread, Picking up a sea shell called “percebes.” One brave activity. (Nós)
Illustration, portfolio individual (The studio, Nós)
Magazines, Special Editions, 50 things we can’t live without
Miscellaneous, Mini paper


Veja aqui todos os vencedores


A SND é uma organização internacional dedicada aos profissionais que trabalham no sector do jornalismo, em particular aqueles envolvidos no design gráfico, na ilustração, infografia e web design. Foi fundada em 1979 nos Estados Unidos, tem cerca de 2600 membros em todo o mundo e realiza o concurso mundial de desenho jornalístico todos os anos.

Recorde-se que, o jornal i já tinha recebido o prémio de jornal europeu do ano. Este prémio foi criado por Norbert Küpper e contou com um júri com 14 elementos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Este Mini nem precisava de ser giro


"Ter Mini é giro." Era o que eu achava até pegar no Camden S. Que os Mini eram um exagero de moda, demasiados caros, demasiado pequenos, demasiado artísticos. Em boa verdade, são. O Camden S - a versão mais vitaminada da gama - é apertado para quatro, pequeno até para duas malas e caro para tão pouco carro (34 883 euros com todos os extras). Nem os pormenores - as faixas na pintura, os faróis biredireccionais, o sistema Harman Kardon desmentem o óbvio: o Mini sabe a BMW Série 3 mas aperta como um Citroën C3.

O maior erro desta geração Mini foi deixar-se definir pelo apuro estético e pela beleza das linhas. Porquê? Porque nesse estereótipo não cabe o Camden S, que é apaixonante sem precisar de mostrar nada. Durante os dias em que andei na rotação Lisboa-Porto (com lombas em Matosinhos e Leça da Palmeira), só rezei para que a gasolina não acabasse e a polícia não me apanhasse. O Camden gasta como um desalmado (11,5 litros aos 100) e anda como um louco (184 cavalos para 1,2 toneladas de peso). Para se ter ideia do salto quântico - e das rezas -, esta versão está para um Mini normal como um GTI está para o Golf: é um Kinder Surpresa de seis velocidades, hipervitaminado (até tem overboost!) e domado (felizmente) pelo controlo de tracção.

O Cam (afeiçoei-me, confesso) parece um kart - colado ao chão, dinamicamente perfeito, sempre nervoso. Em auto-estrada, o único senão é o ruído - há barulho a mais acima dos 100 km/h - e ao fim de duas horas e meia não há sistema de som que aguente. As passagens da caixa são perfeitas - nem demasiado curtas, nem demasiado longas - e em sete segundos o Cam já está nos 100 km/h.

Felizmente, este Kinder só tem surpresas positivas e qualquer excesso de condução segue com um ajustamento no controlo de tracção e um aviso: "oahhh, hold your horses" da missão de controlo, as vozes com sotaque britânico que vão acompanhando o condutor e alertando, de tempos a tempos, para os excessos. Em boa verdade, são elas que melhor resumem este carro: "One car, one driver, one mission." O Camden S é narcisismo puro, um brinquedo de criança atestado com 184 cavalos. Não é carro de família nem uma berlina para o fim--de-semana. Se por 34 mil euros não sonhar com isso, o resto é óptimo.

Fonte: Jornal I

Vai ao Mundial? Compre um colete à prova de facadas por 50 euros


Para evitar que a festa do futebol se converta na festa do crime, a empresa britânica Protektorvest pôs à venda coletes à prova de punhaladas, os quais recomenda a todos os que visitarem a África do Sul durante o Mundial de 2010.

Esta iniciativa pôs de novo sobre a mesa o debate sobre a segurança num país onde se cometem 50 assassinatos por dia.

O colete custa 50 euros e pode ser adquirido personalizado com a bandeira da sua equipa preferida ou com mensagens como “Free Hugs” (Abraços grátis) ou “Olé” (como se canta nos estádios de futebol).

Fonte: Jornal I