quinta-feira, 28 de maio de 2009

Problemas e Desafios da Imprensa em Portugal

Numa altura em que aspirantes a jornalistas sofrem uma grave crise de oportunidade no mundo do trabalho, se calhar, é importante tentar perceber algumas das dificuldades desta profissão.
Os problemas são muitos, os desafios que se lhe colocam são ainda mais. Os “dinossauros” da imprensa olham para os “novos” com uma certa desconfiança. A crise financeira dá para isto, também. Os postos de trabalho são cada vez mais colocados em causa. Ainda não há muito tempo, foi notícia a greve de um grupo de profissionais de uma série de jornais da Controlinveste. E porquê? Porque entramos num contexto de preocupação face ao futuro, que conduz à ameaça da perda de postos de trabalho neste sector. É triste, sobretudo numa altura em que existe cada vez mais mercado na área da Comunicação Social, assistir-se ao desmembramento das redacções e à fúria dos jornalistas, que tentam a todo o custo manter o seu emprego.
Por todos estes motivos, é fundamental que se preste cada vez mais atenção aos problemas inerentes à profissão e que exista uma grande vontade de superar os desafios. Para os “novos”, poderá ser importante apostar num ensino profissionalizante, que lhes permita uma diferenciação no mercado de trabalho. Para os “dinossauros”, é importante que não se deixem “instalar” na rotina dos dias. A concorrência é feroz e, por isso, hoje ninguém tem o seu lugar garantido.
Com as novas tecnologias a ganharem terreno, quem sonha com um lugar numa redacção tem que aprender a “mexer” nestes novos monstrinhos informáticos, tem que se consciencializar de que os tempos são de modernidade e que, por muito que se queira, às vezes o destino não é escrever para um jornal que será impresso para o dia seguinte. O online ganha terreno. Qualquer redacção tem notícias a serem actualizadas no momento do acontecimento. É certo e sabido que um jornal impresso não vinga, se não for complementado com o online. Mas, não estará o impresso em risco? Qualquer pessoa que aceda à internet terá oportunidade de ler notícias, sem que para isso precise de gastar um único cêntimo em papel. Uns falam em “crise do papel”, outros mostram-se confiantes e pouco amedrontados com esta possível ameaça. Este é um dos desafios, uma eterna questão à qual só o tempo dará resposta
E a blogosfera? Andam por aí uns blogues, ditos noticiosos, que todos os dias são actualizados. Notícias, crónicas…tudo e mais alguma coisa. Será isto jornalismo? Até que ponto esta não será uma realidade difícil de compreender? Realmente, este assunto, se discutido a fundo, daria pano para mangas. Se o blogue for da autoria de um jornalista profissionalizado e que respeite todos os parâmetros que são impostos à profissão – códigos éticos e deontológicos –, então é jornalismo, disso não há dúvidas.
Depois, há a questão de saber se todos estes desafios não colocarão em causa a forma como se noticia. Não haverá tendência para a banalização da notícia? Não estaremos a assistir a um incremento do sensacionalismo? Estas questões fazem-nos repensar o papel da imprensa moderna. Será que ela conserva os seus princípios éticos de divulgação de temas de interesse público? Ou, por outro lado, explora sobretudo assuntos interessantes para o público? Resta saber escolher a face da moeda.
Até breve*

domingo, 24 de maio de 2009

Aqui há "Gata"



Às 23 horas, os bares das imediações da Universidade do Minho não tinham a clientela habitual. “É natural, esta semana é o Enterro da Gata. Os estudantes preferem ir para o recinto, pois lá é que se está bem”, diz Rita, uma caloira do curso de Arquitectura. A contrariar esta ausência pouco habitual da “estudantada”, um grupo de rapazes canta alegremente, envergando chapéus de palha e óculos fluorescentes, lembrando um clima tropical que contrasta com a noite escura e fria dessa segunda-feira.
Mais à frente, uma fila de gente ocupa os passeios. Esperam pela camioneta que os levará até ao recinto dos festejos, que agora se fazem no Estádio Municipal do Braga. Numa parede imaculada, o cartaz do Enterro da Gata chama a atenção. Nessa noite, serão vários os artistas a encher o palco e a animar o público: UHF, WRAYGUNN e Fernando Alvim. A fila vai diminuindo e podem ver-se garrafas de cerveja vazias no chão. “Não se pode entrar na camioneta com bebidas ou vidro”, explica um dos polícias a um grupo de alunas de Biologia.
Dentro da camioneta, nem a falta de lugares para toda a gente, nem o cheiro desagradável que se sente, tiram ânimo aos estudantes. À frente, perto do motorista, um grupo de finalistas de Engenharia Civil canta com convicção. Uns mais entusiasmados que outros, todos parecem querer festejar até ao último segundo os derradeiros momentos universitários. Passados alguns minutos, avistam-se luzes no céu. “Estamos a chegar”, diz Pedro, um futuro médico.
Para quem não comprou bilhete antecipadamente, o passo rápido para chegar à fila das bilheteiras torna-se essencial. Em pré-fabricados, membros da Associação de Estudantes vão recebendo os 8 euros que se pagam para entrar na festa. Já na entrada, faz-se a habitual revista policial. Num ápice, está-se no recinto e são horas de dançar e cantar ao som dos UHF. Alguns fãs formam um círculo e, aos saltos na relva molhada, consequência da chuva dos dias anteriores, entoam as canções e bebem garrafas de vodka preta. Ouvem-se gritos de entusiasmo: “E salta UHF, e salta UHF…olé, olé.”
Às duas da manhã, as nuvens que se vão formando no céu não parecem assustar a gente que se encontra no local e se vai juntando ao longo das barraquinhas, representativas de cada curso. Todas servem bebidas e vão concorrendo, entre si, pelo preço mais acessível. “Temos que ter lucro suficiente para cobrir as despesas que fizemos. Aqui tem que ser tudo muito barato, senão as pessoas vão para a barraca do lado”, diz Diana. O entusiasmo nota-se no olhar da estudante de Sociologia, que fala do “excelente ambiente académico que se vive nestes dias”.
Mais à frente, uma aluna da Universidade do Porto diverte-se ao som de música brasileira. “Eu sou do Porto, a Queima das Fitas foi a semana passada. Mas tenho cá alguns amigos e aproveitei para vir”, refere, sem parar de sambar. Ao lado, pode ver-se uma barraca diferente das outras. Aqui, não se servem bebidas alcoólicas, apenas sumos naturais e batidos de fruta. “É uma maneira de incentivar os estudantes a não beberem tanto álcool nestes dias de festa. Funciona, principalmente, como forma de prevenção para alguns excessos”, conta uma das organizadoras.
São quatro da madrugada. Numa tenda branca, vêem-se estudantes com cobertores. Estão sentados em cadeiras ou deitados em colchões, embriagados, e alguns deles quase a serem levados para o hospital porque o tratamento prestado pelos bombeiros e pelo INEM, no local, já não é suficiente. Os amigos que os acompanham estão apáticos e assustados. “Eu vou contar tudo ao pai. Nunca mais venho contigo”, grita Mariana ao irmão. “Os estudantes não têm noção dos problemas que o álcool lhes pode trazer. É triste, mas é a realidade”, conta Carolina, uma enfermeira que presta voluntariado.
Vai amanhecendo e o recinto está quase vazio. As filas por um lugar na camioneta continuam, mas agora é para voltar para casa. Os olhares são de cansaço e os corpos pedem descanso. “Amanhã há mais”, comenta um estudante, à saída.

Aqui fica mais um exemplo de reportagem. Desta vez, o momento escolhido inseriu-se nas festas académicas da Universidade do Minho.

Até breve*

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vê Djokovic a fazer de Nadal (vídeo)

Novak Djokovic é um grande tenista, mas não é menos conhecido pelo seu talento a imitar os adversários. A novidade é que desta vez o sérvio foi desafiado a mostrar a sua «performance» humorística na presença do próprio visado.

Aconteceu na cerimónia que se seguiu à final do Masters de Roma, ganha pelo número 1 do Mundo. Lea Pericolli, antiga tenista italiana e apresentadora do evento, pediu a Djokovic para fazer a sua imitação de Nadal. O sérvio fez-se rogado, disse que nunca o tinha feito com o adversário a ver, mas foi o espanhol quem quebrou o gelo. Pegou na bandeja que Djokovic segurava, prémio para o finalista vencido, e encorajou-o a avançar.

E assim foi. Djokovic puxou os calções para baixo e iniciou a sua exibição, sob aplausos e gargalhadas do público de Roma. E também de Nadal. Uma demonstração de «fair play» que o sérvio rematou com uma piada: «Ele venceu no campo, eu venço nas imitações.»

Vê Djokovic a imitar Nadal em Roma



Fonte: MaisFutebol

terça-feira, 19 de maio de 2009

Crónica do Miguel Sousa Tavares (19/05/09)

Fim de festa

1 A uma jornada do fim, já só está por decidir quem desce à Liga Vitalis de um quarteto composto por Rio Ave, Vitória de Setúbal, Belenenses e Trofense. Destes, o Rio Ave é quem tem a tarefa mais facilitada, com 27 pontos e o último jogo em casa contra o Estrela da Amadora. Os outros três vão lutar para escapar aos dois lugares da despromoção — que o Vitória podia já ter evitado, se não tivesse perdido em casa com o Leixões: agora terá, ou de ganhar na Figueira da Foz, ou de esperar que o Belenenses não cometa a proeza de vencer na Luz. Quanto ao Trofense, só um milagre de conjugação de resultados poderá fazer com que a sua subida ao mundo dos grandes tenha sido tão histórica quanto curta. Porque, como era de prever, o FC Porto não descansou já com o título na mão e passeou na Trofa, sem facilitar coisa alguma, como alias é tradição da casa.
Decidido, sim, é o regresso do velhinho Olhanense à primeira divisão — uma proeza assinada por Jorge Costa, treinador em início de carreira, e que tem o imenso valor de trazer de volta o Algarve ao primeiro escalão do futebol português, fazendo o campeonato verdadeiramente mais nacional. Será desta que vamos ver o Estádio Algarve ter alguma utilidade prática para justificar o dinheiro dos contribuintes lá enterrados, ou a equipe de Olhão vai preferir continuar a jogar no seu modesto estádio? Quando vejo o presidente da Académica falar na hipotética construção de um novo estádio em Coimbra, já não digo nada…

2 Lá por fora, Mourinho cumpriu mais uma promessa e conseguiu a assinalável marca curricular de já ter sido campeão em três países: aposto que não descansará enquanto não o for também em Espanha. Posso achar que o futebol das equipas de Mourinho — Chelsea e Inter — é chato e previsível, mas lá que ele tem o toque de Midas, isso é indiscutível. Mourinho veio ao mundo para vencer e o resto é filosofia. Agora, a verdade é que nunca mais vi uma equipa de Mourinho jogar futebol como jogava aquela equipa do FC Porto que venceu a Taça UEFA na inesquecível final de Sevilha.

3 Grave, grave são as revelações da edição de ontem do Correio da Manhã, baseadas no acesso a um relatório policial que desvenda as relações perigosas entre o presidente do Benfica e os dirigentes da claque No Name Boys — muitos dos quais largamente referenciados no mundo do crime e da marginalidade. O que ali vem é suficientemente detalhado e alarmante para que tudo fique em águas de bacalhau, tanto mais que já era sabido que, ao contrário de Sporting e FC Porto, o Benfica consente e colabora com claques que se recusam a cumprir a lei — nomeadamente no registo e identificação dos seus dirigentes.

O problema das claques organizadas, não é um problema clubístico, mas um problema do futebol, como um todo, e um problema da sociedade. É inútil a discussão de quem tem as piores claques, porque todas elas são potencialmente perigosas, aqui e em toda a parte. Mas a necessidade de ter as claques no estádio, a apoiar a equipa, tem levado os nossos clubes a assobiar para o ar, deixando para a polícia a resolução dos problemas mais graves que elas colocam. E, a meu ver, isso é um erro: ir ao futebol, hoje em dia, é, muitas vezes, uma actividade de risco. E, se as coisas fogem de controle, se os clubes não conseguem garantir nos seus estádios a segurança de quem paga bilhete para ver um espectáculo, qualquer dia só restarão mesmo as claques. Não seria tempo de a Liga de Clubes tentar, aqui também, impor regras suficientemente claras e consensuais? Ou haverá quem não queira o consenso? E porquê?

4 E, pronto, está aberta a terceira época de competição, a nível do futebol. Aquela que, diz-se, mais jornais desportivos vende: a época do «defeso» e das transferências. Como se sabe, é também, desde há uns vinte anos, invariavelmente, a época em que o Benfica é crónico campeão: até já os benfiquistas gozam com a situação. O problema é que este ano não há grande margem nem para gozar nem para falhar, depois do imenso investimento feito no Verão passado e com resultados tão pífios.

Mas há coisas que não há como escapar-lhes, são tradições daquela casa: todos os anos, por esta altura, os jornais desportivos enchem-se de parangonas sobre as extraordinárias aquisições do Benfica que aí vêm. E há duas espécies delas: as verdadeiras vedetas internacionais (que a direcção gosta de apresentar aos adeptos como conquistas muito prováveis, para manter os espíritos em alta) e cujo folhetim de vem-não-vem ocupa umas semanas até desaparecer subitamente assim que a coisa chega a esse infame detalhe de discutir o valor da compra e dos salários a pagar. E depois, há as vedetas desconhecidas ou esquecidas, tipo Freddy Adu, que, uma vez que se noticia a possibilidade de virem para o Benfica, logo se transformam em foras-de-série que a perspicácia do gabinete de prospecção do Benfica detectou, antecipando-se a gigantes como o Real Madrid ou o Arsenal. E logo se desata a recolher depoimentos de todos os que possam atestar a genialidade do craque que aí vem: colegas de equipa, o treinador dos infantis, o cunhado e a sogra, os vizinhos e antigos companheiros dos jogos da rua. Depois, faz-se a fotografia inescapável do novo ídolo (que nunca ninguém viu jogar) com a camisola do Glorioso e são-lhe propostas, à escolha, três alternativas de primeiras declarações: ou que está radiante por vir para um dos maiores clubes do mundo, cuja fama vai da Patagónia ao Círculo Polar Ártico; ou que é um imenso orgulho sentir aquela camisola ao peito; ou que, desde pequenino que se sente benfiquista. E assim atravessamos o Verão e a «silly season» futobolística, com a previsibilidade de alguma coisa tão certa quão certa é a morte.

5S e bem os contei, chegou a haver oito candidatos auto-declarados à presidência do Sporting, assim que, para alívio de todos eles, Filipe Soares Franco declarou que não se recandidatava e Ribeiro Teles manteve-se na sua recusa de avançar. Afastados os candidatos ganhadores, saltaram todos os outros, como coelhos da toca, com tantas ou tão poucas credenciais que chegou a parecer que o poder no clube do visconde de Alvalade iria mesmo cair a rua, à mercê do primeiro que passasse. Mas, agora que os «notáveis» deram homem por si, na pessoa de José Eduardo Bettencourt, os candidatos de ocasião começam a bater em retirada, porque ganhar eleições por falta de comparência de verdadeiros candidatos é uma coisa, ganhá-las em concorrência a sério é outra bem diferente. É assim provável que, no final do processo, não restem aos sportinguistas mais do que duas alternativas de escolha. Excepto para Dias da Cunha, que esse jurou que Soares Franco iria a votos e ainda está à espera de ter razão.

In abola.pt