domingo, 24 de maio de 2009

Aqui há "Gata"



Às 23 horas, os bares das imediações da Universidade do Minho não tinham a clientela habitual. “É natural, esta semana é o Enterro da Gata. Os estudantes preferem ir para o recinto, pois lá é que se está bem”, diz Rita, uma caloira do curso de Arquitectura. A contrariar esta ausência pouco habitual da “estudantada”, um grupo de rapazes canta alegremente, envergando chapéus de palha e óculos fluorescentes, lembrando um clima tropical que contrasta com a noite escura e fria dessa segunda-feira.
Mais à frente, uma fila de gente ocupa os passeios. Esperam pela camioneta que os levará até ao recinto dos festejos, que agora se fazem no Estádio Municipal do Braga. Numa parede imaculada, o cartaz do Enterro da Gata chama a atenção. Nessa noite, serão vários os artistas a encher o palco e a animar o público: UHF, WRAYGUNN e Fernando Alvim. A fila vai diminuindo e podem ver-se garrafas de cerveja vazias no chão. “Não se pode entrar na camioneta com bebidas ou vidro”, explica um dos polícias a um grupo de alunas de Biologia.
Dentro da camioneta, nem a falta de lugares para toda a gente, nem o cheiro desagradável que se sente, tiram ânimo aos estudantes. À frente, perto do motorista, um grupo de finalistas de Engenharia Civil canta com convicção. Uns mais entusiasmados que outros, todos parecem querer festejar até ao último segundo os derradeiros momentos universitários. Passados alguns minutos, avistam-se luzes no céu. “Estamos a chegar”, diz Pedro, um futuro médico.
Para quem não comprou bilhete antecipadamente, o passo rápido para chegar à fila das bilheteiras torna-se essencial. Em pré-fabricados, membros da Associação de Estudantes vão recebendo os 8 euros que se pagam para entrar na festa. Já na entrada, faz-se a habitual revista policial. Num ápice, está-se no recinto e são horas de dançar e cantar ao som dos UHF. Alguns fãs formam um círculo e, aos saltos na relva molhada, consequência da chuva dos dias anteriores, entoam as canções e bebem garrafas de vodka preta. Ouvem-se gritos de entusiasmo: “E salta UHF, e salta UHF…olé, olé.”
Às duas da manhã, as nuvens que se vão formando no céu não parecem assustar a gente que se encontra no local e se vai juntando ao longo das barraquinhas, representativas de cada curso. Todas servem bebidas e vão concorrendo, entre si, pelo preço mais acessível. “Temos que ter lucro suficiente para cobrir as despesas que fizemos. Aqui tem que ser tudo muito barato, senão as pessoas vão para a barraca do lado”, diz Diana. O entusiasmo nota-se no olhar da estudante de Sociologia, que fala do “excelente ambiente académico que se vive nestes dias”.
Mais à frente, uma aluna da Universidade do Porto diverte-se ao som de música brasileira. “Eu sou do Porto, a Queima das Fitas foi a semana passada. Mas tenho cá alguns amigos e aproveitei para vir”, refere, sem parar de sambar. Ao lado, pode ver-se uma barraca diferente das outras. Aqui, não se servem bebidas alcoólicas, apenas sumos naturais e batidos de fruta. “É uma maneira de incentivar os estudantes a não beberem tanto álcool nestes dias de festa. Funciona, principalmente, como forma de prevenção para alguns excessos”, conta uma das organizadoras.
São quatro da madrugada. Numa tenda branca, vêem-se estudantes com cobertores. Estão sentados em cadeiras ou deitados em colchões, embriagados, e alguns deles quase a serem levados para o hospital porque o tratamento prestado pelos bombeiros e pelo INEM, no local, já não é suficiente. Os amigos que os acompanham estão apáticos e assustados. “Eu vou contar tudo ao pai. Nunca mais venho contigo”, grita Mariana ao irmão. “Os estudantes não têm noção dos problemas que o álcool lhes pode trazer. É triste, mas é a realidade”, conta Carolina, uma enfermeira que presta voluntariado.
Vai amanhecendo e o recinto está quase vazio. As filas por um lugar na camioneta continuam, mas agora é para voltar para casa. Os olhares são de cansaço e os corpos pedem descanso. “Amanhã há mais”, comenta um estudante, à saída.

Aqui fica mais um exemplo de reportagem. Desta vez, o momento escolhido inseriu-se nas festas académicas da Universidade do Minho.

Até breve*

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