terça-feira, 5 de maio de 2009

A luz, o cheiro e o tempo são diferentes aqui

“Uma boa Páscoa para todos. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”. Às quinze horas, a capela do Convento do Espinheiro, em Évora, enchia-se de gente vestida a rigor. Era Domingo de Páscoa e a missa em honra da Ressurreição de Cristo fazia-se acompanhar pelos cantares do Alentejo. Quase no fim, as palavras do sacerdote anunciavam um dia abençoado. Colado à capela, o Convento do Espinheiro comporta uma carga histórica vivida por entre as paredes brancas e pesadas, local de reza dos frades Jerónimos, refúgio de reis e encontros da corte. Agora, transformado em hotel de luxo, os serões são passados à lareira, entre provas de vinho e sessões de jazz.
A tarde está solarenga e, no caminho para o centro da cidade avistam-se sobreiros e cabras a pastar. Uma cegonha voa em redor do ninho e pousa para alimentar os filhotes. As casas são caiadas e estendem-se pelas ruas cobertas de gente que passeia e aprecia os locais de visita obrigatória que Évora, Património Mundial da Unesco, tem para mostrar.
Erguido pelas catorze colunas de granito que lhe restam, o Templo Romano da cidade, conhecido por Templo de Diana, é alvo da curiosidade de um grupo de turistas espanhóis que ouvem, atentamente, a guia que os acompanha. Um casal tenta tirar uma fotografia aos filhos com o monumento como fundo, mas parece tarefa impossível, não fosse uma das crianças estar, insistentemente, a pontapear uma parte do pódio (base) do templo. “Isto, em tempos festivos é muito concorrido. Vêm cá muitas famílias, mas depois os miúdos não respeitam nada e os pais não os sabem segurar”, refere o senhor Feliciano. A indignação nota-se na expressão do dono do quiosque “Jardim Diana”, que fica mesmo no centro da praça.
Mais à frente, junto à Torre de Évora, fica o Palácio dos Duques do Cadaval, mandado construir no século XIV pelo fidalgo Martim Afonso de Mello. Com valor histórico e arquitectónico, as suas salas de exposição recebem vários visitantes que se deslumbram com a colecção de pinturas, esculturas e armaria. Um casal de ingleses sobe por umas escadas estreitas e deformadas pelo peso do tempo. Entram na Sala da Torre, a divisão mais alta e fria da casa, e apreciam as cadeiras forradas a veludo vermelho, gastas e austeras, alinhadas sob um tapete de Arraiolos. Comentam que estão encantados com tudo o que já viram e recomendam as vistas sobre a cidade, que podem ser contempladas pela única janela da sala.
Um coche, estilo medieval, puxado por dois cavalos, convida a um passeio pelas ruas estreitas e cuidadas da cidade. “Dá para ver quase tudo. Em pouco mais de meia hora passámos pelas principais zonas de Évora”, diz Diogo, um jovem portuense, com ar satisfeito. Veio com a família passar uns dias ao Alentejo. Falam daquilo que já visitaram:” Fomos a tantos lugares. Aqui em Évora há muitas igrejas e nós estivemos em quase todas. Fomos à de São Francisco, à do Carmo, à da Misericórdia e à de Santo Antão. Mas a mais bonita é a Catedral”, conta Teresa, a matriarca.
Nas ruas que conduzem à Praça do Giraldo – a principal de Évora – as lojas são tradicionais e vendem artigos tipicamente alentejanos. Na loja da porta 47, a montra está cheia de produtos do tempo dos avós e bisavós, etiquetados com preços em euros. Aqui encontra-se de tudo, desde sabonetes Ach.Brito ao conhecido Olex, que se compra por menos de cinco euros.
O sol vai-se pondo e o frio de Abril nota-se pelo gemer das folhas das árvores. A Capela dos Ossos está fechada porque é Domingo de Páscoa e, à hora do jantar, as ruas estão sem gente. Mas é dia do tradicional borrego no forno, que se cozinha no “Fialho”, o restaurante mais premiado da zona. Numa sala cheia e em ambiente descontraído, um grupo de portugueses delicia-se com as batatinhas assadas que acompanham o bicho, e escolhe para sobremesa a encharcada de Mourão e o Torrão Real de Évora. Com piadas à mistura e um bom vinho do Porto, Pedro, o mais entusiasta diz: “O que é nacional é bom”. Pois claro.

Esta reportagem foi feita, tal como se percebe, no domingo de Páscoa, este ano. Apesar de já ter passado algum tenpo, achei interessante dar a conhecer as especificidades deste género jornalístico.
Por outro lado, dentro das várias coisas que um jornalista pode fazer, este trabalho é o que me atrai mais, porque não preciso de me restringir a uma secretária, para além de que é sempre bom visitar novos locais e depois contar tudo, como se fosse uma história.

Até breve*

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