domingo, 10 de maio de 2009

Objectividade Jornalística. Será?

A objectividade é um tema que gera bastante controvérsia na área do jornalismo. Talvez por isso, o jornal Expresso, no primeiro ponto do seu Código de Conduta, lhe atribua alguma importância. Reconhece que esta existe, embora não de forma absoluta, mas que isso não invalida a busca da verdade factual. Curiosamente, por outro lado, diz que temos consciência da subjectividade e que, por isso, necessitamos de procurar a objectividade.
Independentemente do que se possa dizer e das crenças que existam em torno deste “suposto” valor, presente na actividade jornalística, os mais atentos acreditam que estamos perante uma verdade dogmática, um bem necessário, mas impossível de alcançar. E porquê? Porque, efectivamente, existe todo um conjunto de constrangimentos a envolver a construção de uma notícia. Desde logo, as escolhas que o próprio jornalista faz a vários níveis, nomeadamente, em relação ao tema, às fontes a que recorre, ao enquadramento que vai dar a um determinado assunto ou, no caso de se tratar de um fotojornalista, à preferência por um determinado ângulo ou aquilo que mais deseja focar. Também não podemos esquecer que existe uma organização para a qual o jornalista trabalha, assim como uma política editorial, que serão, certamente, aspectos a ponderar quando nos referimos ao seu trabalho. Tudo isto, complementado com um ambiente exterior, aliado ao próprio desenvolvimento da realidade, contribui para uma subjectividade difícil de reconhecer. Realmente, concordo com a ideia defendida no primeiro ponto deste Código de Conduta, quando nos diz que o reconhecimento desta subjectividade leva à procura da objectividade, mas reconheço que é algo impossível de atingir.
Por tudo isto, e depois de muitas objectividades e subjectividades, acho estranho que, no segundo parágrafo deste primeiro ponto se diga: “A pluralidade das fontes, o trabalho em equipa e a investigação cuidada e sem preconceitos contribuem para a prossecução da objectividade jornalística”. Mas, afinal, não serão estas algumas das causas da subjectividade ou, antes, da dificuldade em procurar a objectividade? Parece-me que, em vez de se proclamar esta última como um valor fundamental no jornalismo, seria, talvez, mais interessante admitir que tal não existe e que estamos perante um verdadeiro dogma.
O jornalista não é, nem deve considerar-se, um herói que no momento da construção da notícia tira a máscara e se despe de todos os constrangimentos aliados à sua produção. Contudo, é para combater este género de tendências que um jornalista recebe formação.Para tentar ser o mais objectivo possível. Se assim não fosse, seria mera gente, com jeito para a escrita.

Até breve*

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