terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Ensaio > Fiat 500 Abarth


Há automóveis que apetece contemplar antes de conduzir, mas há outros que, após o primeiro olhar, a vontade de pegar no volante é imediata. É o caso do novo Fiat 500 Abarth, ensaiado nesta edição da AutoMotor.

A estética deste novo desportivo da Fiat é, no mínimo, deliciosa e faz jus à história iniciada por Carlo Abarth, que decidiu, no final dos anos 50, pegar num Fiat 500 e juntar-lhe uns “pozinhos” para melhorar a performance de um utilitário, o que resultou em sucesso nas várias competições em que participou.

A imagem do escorpião tem sido utilizada volta e meia pela marca italiana para reforçar o cariz desportivo de alguns dos seus modelos, mas nenhum foi tão apelativo como o novo 500.

O padrão de xadrez no tejadilho, as riscas laterais, o escorpião no capot e os espelhos vermelhos são elementos que assentam como uma luva e são apenas um exemplo de como se pode decorar um Abarth. Podem não ser discretos, mas um 500 parece ter o condão de aguentar qualquer adereço sem vergonha de o exibir.

Afinal de contas, se há coisa que um 500 Abarth não quer é passar despercebido. E realmente não passa, é ver as cabeças girar à sua passagem como se fossem girassóis em busca de sol. Todos se rendem ao 500, e ao Abarth ainda mais. Mesmo assim, se quiser uma decoração mais discreta, é só escolher no catálogo de opcionais da Fiat, que certamente irá encontrar a ideal para si.

As jantes de liga leve são agressivas (as de série são de 16’’, mas, em opção, existem umas de 17’’ com pneus 205/40, em vez dos 195/45 montados no “nosso” 500 ), e as duas ponteiras de escape encaixadas entre os difusores de ar traseiros também dão um ar mais “irritado” ao pequeno Fiat.

Quando acedemos ao interior, o entusiasmo mantém-se. Bancos desportivos em pele, volante com a zona inferior achatada (também forrado a couro cosido com linha vermelha), pedais em alumínio e comando da caixa a combinar com o resto. O painel de instrumentos é outra delícia, com um mostrador principal ao centro e um satélite que serve apenas para indicar a pressão do turbo, e, no meio, uma luz (SHIFT UP) que indica o momento de passar para a relação de caixa seguinte, para não castigar o pequeno quatro cilindros de 1368 cc com 135 cv.

Segurança acrescida
Apesar de rendidos ao interior, há um senão: o apoio para o pé esquerdo está muito recuado, o que não permite a posição de condução ideal, tanto mais que a coluna de direcção só regula em altura. Para nós é um senão importante, mas não estamos a mentir se afirmarmos que, após algumas curvas com o 500 Abarth, essa crítica voa da memória…
O motor não é, propriamente, um colosso de força e potência, mas parece ser o suficiente para manter a diversão num patamar elevado, sem esquecer a sonoridade, que ganha pontos no festival da canção automóvel à medida que se repetem os timbres mais agudos. A caixa também podia ter um escalonamento mais curto, mas, mesmo assim, o compromisso feito para não castigar muito os consumos é perfeitamente aceitável.

O 500 Abarth pesa 930 kg, o que lhe permite passar dos 200 km/h, o que faz sem problemas, e cumprir os 0-100 km/h em pouco menos de 9,0 segundos. Para muitos pode parecer um perigo velocidades desta ordem num automóvel tão pequeno, mas a estabilidade deste Fiat é inquestionável.

A direcção tem um tacto muito bom e o botão Sport torna-a mais dirceta, além de garantir uma resposta do acelerador mais imediata. Com esta função o binário sobe de 180 Nm às 2500 rpm para 206 Nm às 3000 rpm.

A procura de estradas realmente sinuosas torna-se imperativa quando se conduz um modelo como o 500 Abarth. E, quando aparecem, um pequeno sorriso torna-se inevitável. Digamos que é um sorriso à escala do 500.

Curiosamente, o comportamento é uma faca de dois gumes quando se começa a explorar em pleno a dinâmica. A suspensão, mais firme e rebaixada 15 mm, mantêm o 500 em contacto permanente com o solo e o nível de aderência é muito bom. O sistema TTC (Torque Transfer Control) liberta o binário de forma adequada às rodas dianteiras, trava a que tem pior aderência fazendo a função de um autoblocante, o que oferece ao 500 uma inscrição em curva soberba.

A subviragem praticamente não acontece e a rapidez com que o eixo dianteiro obedece ao volante prova a eficácia do châssis. As oscilações da carroçaria notam-se, mas não comprometem o prazer ao volante, tanto mais que os bancos seguram bem o corpo.

Então, se são só qualidades, porquê os dois gumes da faca? É a pergunta certa. A resposta é simples: um controlo de estabilidade (ESP) permanentemente activo. É óbvio que a segurança é maior, mas, dado o historial do símbolo Abarth, a competência do châssis e a forma como a electrónica distribui a potência às rodas da frente, parece-nos que o mínimo que os responsáveis por este Fiat deviam ter feito era deixar ao condutor a possibilidade de escolher.

Dito isto, sempre que estamos mais inspirados e tentamos fazer o 500 Abarth dançar ao som da estrada serpenteante, o ESP intervém e não dá margem de manobra a um escorregamento intencional do eixo traseiro. Como uma avó que manda o neto estar sossegado...

Não deixa de causar alguma desilusão, mas também é verdade que é possível ter prazer ao volante desta piccola macchina mesmo com a vigília constante da electrónica. Aliás, o 500 torna--se fácil para qualquer um que goste de andar depressa, sendo necessário um erro de condução muito grosseiro para perder o controlo deste 500.

O melhor mesmo é conduzir tentando minimizar a intervenção do ESP: trava-se mais cedo, adopta-se uma trajectória limpa sem variações na direcção, e pé a fundo quando assim que se atinge o “apex” da curva. A velocidade até nem é pouca e a luz SHIFT UP dá aquele toque de competição adicional. Os travões merecem elogios, não só pela eficácia, mas também pela dignidade com que aguentaram o nosso “castigo” sem qualquer queixa.

Os consumos também são razoáveis, tendo em conta a utilização que se dá a um modelo deste género, com a média ponderada a ficar pelos 8,2 l/100 km. Na cidade o valor sobe, mas é compensado pela genica e agilidade que o modelo demonstra nos percursos urbanos.

O mais insólito é que o 500 Abarth ainda não tinha preços até à data de fecho desta edição, pelo que só podemos especular face aos valores pelo qual é comercializado na Europa. Segundo a AutoMotor apurou, o preço vai variar entre 23 mil e 25 mil euros, o que não deixa de ser um pouco elevado para um 500.

De qualquer forma, podemos estar perante um modelo destinado ao sucesso, tendo em conta a ampla faixa etária de potenciais clientes que o 500 consegue seduzir.

Fonte: Revista Automotor

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