segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Um relato de um repórter de guerra‏

São neste momento 11h00 e mais um dia passado, mais um dia vivo. A situação não podia ser pior, as forças Helghast estão a atacar em massa e estar a escrever mais uma frase deste texto é, sem dúvida, cada vez mais improvável de acontecer.

Já passaram cinco dias desde a minha chegada a Helghan e o cenário torna-se cada vez mais difícil para os sobreviventes (os poucos que ainda se aguentam), pois o ar é rarefeito devido à enorme nuvem de fumo que se vem acumulando e os inimigos vasculham cada casa, cada beco à procura de mais uma «razão» para puxar o gatilho. Os corpos acumulam-se e são queimados, deixando no ar um cheiro a carne putrefacta, quase impossível de suportar.

O grupo no qual tenho estado a sobreviver nestes dias perdeu dois membros recentemente, um homem e o seu filho quando estes tentavam arranjar comida numa espécie de mercearia, quando foram surpreendidos pelas tropas Helghast que de imediato pôs fim às suas vidas incendiando a mercearia. Os gritos de agonia e terror de um pai e seu filho a serem consumidos pelas chamas são algo tenebroso que nos persegue a cada instante. «Nada podíamos ter feito para os salvar» uma frase que muitas vezes se tornava numa interrogação nas nossas mentes.
Estamos numa luta desigual em menor número e sem armas, apenas sobrevivíamos. Quando perguntei ao grupo o que sente quando vê mais um dia nascer respondem-me com muita calma e com um tom de voz de quem já está a chegar ao seu limite: «Quando olhamos para mais um dia ao acordarmos de manhã fazemos sempre a mesma pergunta, estaremos vivos ou apenas a respirar?».

As horas da noite eram sem dúvida as mais difíceis, estando metade do grupo acordado e o restante a dormir e vice-versa em turnos de três no máximo quatro horas. O local não era sempre o mesmo, era até as forças lá passarem e termos de nos mudar. Por sorte (se é que sorte tem significado nesta situação) encontrávamos por vezes bastantes alimentos nas casas onde ficávamos. As mulheres e crianças alimentam-se em primeiro lugar seguido dos homens mas sempre tentando poupar o máximo possível de alimentos, pois a «sorte» podia ser diferente no dia seguinte.

Acabo este texto com o feliz sentimento de estar vivo...espero ver mais um dia nascer para eu também me interrogar:«Estarei vivo ou apenas a respirar?»

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